quarta-feira, 25 de maio de 2016

Entrevista aos Savanna


Miguel Vilhena, Tiago Vilhena e Pedro Castilho. Os Savanna começaram em Viseu e vivem a vida ao rubro com confettis, um imaginário sádico e "Dreams To Be Awake" na manga.
Já podes ler a entrevista, se não queres "ferrar o galho".

MS: Vocês lançaram o vídeo da música "Get it Right". De que formas é que o vídeo se enquadra na música e em que é que se basearam para o fazer?

Miguel Vilhena: Sonicamente, a "Get It Right" difere um bocadinho das outras músicas que a gente tem feito. Surgiu a tentativa de fazer uma coisa um bocadinho mais plástica, acho que se nota que há menos elementos orgânicos naquela música do que nas outras... Foi uma espécie de uma experiência, tentar procurar esse caminho mais marcado e um bocadinho mais quadrado. Fez sentido para nós que, no videoclip, se inserisse essa estética um bocadinho mais plástica, daí termos seguido um caminho mais digital em que usámos técnicas mais modernas, ao contrário da "Gods We Are" em que usámos película em super 8 e é um vídeo muito mais orgânico. A ideia do vídeo era seguir mais um bocado essa vertente mais rija da música, que é um bocado diferente das outras músicas do disco.


MS: Reparámos que a cor é importante no vídeo deste single. O factor cor é um elemento muito presente no álbum que aí vem? Pensaram muito nisso ou foi espontâneo? 

Tiago Vilhena: Em relação a isso temos sempre atenção. Tanto nos vídeos, como nos concertos normalmente pedimos ao técnico de luz para usar esta cor, aquela cor... Nos videoclips, principalmente nas capas de singles até... Sei lá, no disco usámos tons assim mais pastel e esbatidos...

Miguel Vilhena: Tem bué piada referirem isso, por acaso nós ligamos muito a essa questão mais cromática mas sem nunca falarmos muito sobre esse assunto e por acaso... Tenho uma ideia mesmo fixe para a capa do próximo disco e a cor desse disco já está mais ou menos decidida na minha cabeça. Mas é segredo.


MS: Quanto à cover que lançaram em julho de 2015 da música "Lord Of This World" dos Black Sabbath... De onde surgiu a ideia de fazer algo desse género?

Tiago Vilhena: A ideia de ser Black Sabbath foi do Miguel. Sempre quisémos fazer uma cover, sempre tivemos mil ideias para mil  músicas diferentes, já tocámos algumas covers na altura do EP, mas desde o lançamento do álbum nunca nos decidimos a fazer uma. Surgiu esta porque ele deu esta ideia e um dia chegou ao estúdio e fez a cover.

Miguel Vilhena: Eu sou mesmo bué fã de Black Sabbath, mesmo bué. Na altura que fiz essa cover andávamos a discutir qual é que queríamos fazer. Toda a gente tinha sempre mil ideias, principalmente o meu irmão que todos os dias sugeria para aí dez músicas... E eu há bué tempo que achava que aquela malha (não da maneira como é a música original) tinha ali um feeling escondido que eu gostava bué de explorar. Um dia cheguei ao estúdio e decidi: "Vou pegar nesta música, tentar seguir este caminho que eu tenho na cabeça para esta música". Fiz aquilo, eles curtiram e decidimos que fazia sentido lançar como Savanna.

Tiago Vilhena: A ideia do vídeo tinha surgido até antes dessa música existir.

Miguel Vilhena: Pois é, pois é. A ideia era tua, acho eu.

Tiago Vilhena: É capaz. Depois adaptámos aquilo, fizemos aquilo na cozinha, com coisas da cozinha ali à volta e todos apertados.

Miguel Vilhena: Comprámos um daqueles sopradores de jardim para soprar as folhas e limpar o chão das ruas e um percussionista amigo nosso foi tipo o "técnico dos confetis". Pegou naquela cena e ia despejando os confettis para cima dos sopradores.

Os irmãos relembram que a pressão dos 5kg de confettis gastos chegava a magoar, tal era a espessura destes. Ficámos a descobrir mais uma das  maravilhas das lojas de carnaval, inclusive ideias para futuras partidas.




MS: Quão importante foi a influencia dos Black Sabbath no vosso som e que outras bandas também tiveram impacto na vossa sonoridade?

Miguel Vilhena: Black Sabbath... já são os Reis do Riff , eu sou mesmo muito fã do "riffzão" e há algumas músicas em Savanna que eu tentei seguir mais esse caminho. Por exemplo, na "Dreams To Be Awake" há ali uma parte super dreamy e espacial e depois, de repente, há um contraste mesmo bruto  (imita o riff da música). É bué Black Sabbath, aquilo. A "Gods We Are" também é um bocado... Há bué influência de Black Sabbath mas acho que de uma maneira muito menos óbvia. Imagina, uma das nossas maiores influências e acho que posso falar pelos três, é a música brasileira. Música brasileira dos anos 60 e Black Sabbath são coisas que não têm nada a ver uma com a outra. Eu não consigo encontrar nenhum paralelismo entre uma coisa e outra mas influenciam bastante e acho que se consegue notar as duas coisas ali, isso é fixe.


MS: Qual é que consideram que foi o ponto de viragem para o início do vosso sucesso? Aquela volta tipo "wow, agora temos meio caminho andado"!

Miguel Vilhena: Imagina, quando lançámos o álbum somos capazes de ter sentido "OK, houve aqui um boost fixe!"
Tiago Vilhena: Houve, mas foi gradual!
Miguel Vilhena: Eu sei de uma altura em que eu senti "Epá, pera aí que isto até está a resultar", que foi quando fomos tocar a Coimbra e éramos a única banda. Estávamos mesmo "porra, quem virá aqui para nos ver?" Era uma sala gigante e estava cheia de pessoal só para nos ver... Eu até fiquei um bocado emocionado! Do tipo "o que é que se passa aqui?". Foi mesmo fixe...
Tiago Vilhena: Se bem que estavam sempre a chamar-me de Bernardo, não sei porqe (risos)!


MS: Quais os concertos futuros que mais vos entusiasmam?
Tiago Vilhena: Alive, Indie, Maus Hábitos... Estamos entusiasmados com todos!

No entanto, chegam a um consenso: Aguardam com a mesma pica pelo concerto no "Maus Hábitos" porque curtem muito do Porto e desta vez irão tocar sozinhos.


MS: Agora um pequeno desafio. Se cada faixa do vosso álbum "Dreams To Be Awake" fosse a BSO de um filme ou sonho marado, qual é que seria a história de cada faixa?

Miguel Vilhena: A primeira malha, "Destruction Derby"era um fim do mundo: o mundo a acabar, tudo a explodir em milhões de cores por todo o lado. Como se estivessem a explodir confettis por todo o lado, tudo a morrer! Imagina, tudo a ser desmembrado mas todos bué felizes.

Tiago Vilhena: "Fancy Pants" é um estado de perfeita confusão em que podes estar num sítio completamente normal e nada está a fazer sentido, apesar de não haver nada a fugir à regra. A percepção que tu tens em relação a isso é como a letra diz. É só uma cabeça a não perceber o meio envolvente.

Pedro Castilho: A "Hot Winds" é uma viagem de carro a beira mar, num final de tarde depois de um dia bom.

Tiago Vilhena: O título da música é uma tentativa de representação e sentires assim uma brisa no verão, na cara, e sentires-te bué bem.

Miguel Vilhena: A "Safari" (risos)... Como é que eu vou explicar isto? Estás a ver aquela música "Quando alguém nasce, nasce selvagem" (trauteia a música), só que com um bocado menos de azeite? É essa música, com uma letra diferente e com um instrumental diferente.

Tiago Vilhena: "The Lab" é um sítio que nós frequentávamos muito, já não existe. Existe o upgrade... Mas é um sítio na Graça, que se chamava "O Laboratório" e agora chama-se "A estrela de não sei quê ". Aquilo era um sítio espectacular e estávamos lá mesmo muitas vezes. Eu cheguei a dormir lá noites seguidas. Foi a última música a ser escrita, pensámos em escrever sobre o que tínhamos feito ultimamente.

Miguel Vilhena: "Dreams To Be Awake" fala sobre sentires que depois de muitos entraves para fazeres alguma coisa, finalmente percebeste como é que se faz, avanças com confiança para fazer isso mas ao mesmo tempo olhas para o caminho e lembras do percurso que foi até lá chegar. Apercebes-te do quão importante foi esse percurso. Só que isto mais divertido e menos chato. A "Rise Of The Newborn, secalhar nunca disse isto mas esta música é um bocado uma ode aos "10 000 Anos Depois Entre Vénus e Marte". Este tema é o que tá na letra, é tipo estão quase a passar aqueles 10 000 anos...
Epá mas acabei de perceber que me enganei! Eu acabei de dizer que na nossa letra estavam quase a passar os 10 000 anos para poderes voltar a terra, como o José Cid diz, mas devia ser 9 000, por isso acabaste de me apanhar aqui num erro crasso. Afinal a música não é nada sobe os 10 000 anos, é sobre uma história parecida (risos).

Tiago Vilhena: Só que em vez de serem 10 000 anos eram 20 000 e foi isso tudo que foi pensado nessa altura.

Miguel Vilhena: OK, "Gods We Are" é sobre alguém que é buéda boss e olha para outra pessoa, consegue ver nessa pessoa o potencial e dá-lhe a mão para ficar Boss com ela. Mas alguém que já conseguiu chegar a um nível de olhar por cima e apercebe-se que há alguém que tem o potencial mas ainda não chegou onde ele chegou... mas ele vai-lhe dar a mão para eles juntos poderem ser o Boss.


MS: Voces pensam em algo em específico quando dizem isso? Um grupo de pessoas, por exemplo?

Miguel Vilhena: Sim, muitas vezes sim... Epá, eu não posso dizer isto. Posso dizer. Por exemplo, a "The Fix" é sobre o Pedro Castilho.

Pedro Castilho: E eu não sabia disto...

Tiago Vilhena: Eu também não!

Miguel Vilhena: Não é só sobre o Pedro Castilho, mas pronto..

Pedro Castilho: Ele dedicou-me uma música, que querido...

Miguel Vilhena: A "FuzZzZz" é sobre dormir. Dormir é fundamental.


MS: Então calma, se estamos a falar de um sonho, se cada faixa fosse um sonho... essa seria sobre dormir num sonho, ou seja, é um Inception. Se formos bem a ver...

Miguel Vilhena: Pois, porque esta música não só sobre dormir, é sobre ter sono, é tipo sobre... "ferrar o galho". Não sabem o que é "ferrar o galho"? É dormir. Parece que quer dizer outra coisa (risos gerais)

Miguel confronta um membro dos Ditch Days que vem cuscar a entrevista e pergunta se este conhece o significado da expressão "ferrar o galho". Segue-se uma agradável e perversa sessão de esclarecimento das possíveis conotações. Qual será a possível origem dessa expressão? Fica a dúvida no ar... Ao que todos concluem que a "FuzZzZz" pode ser sobe dormir todo nu.

Tiago Vilhena: Olha, a "Destruction Derby 2", para mim, é a música mais triste de todo o sempre. É uma tristeza... de todas as músicas, pelo menos, que estão aqui.

Miguel Vilhena: Há uma coisa bué engraçada sobre esta música. A letra desta música foi escrita por mim e pelo Tiago e os dois tirámos conclusões diferentes do que estávamos a escrever. Para mim, é uma letra feliz, para ele é uma letra triste.

Tiago Vilhena: Mas mesmo uma tristeza horrorosa... Não gosto muito de pensar nisso.

Nisto concluem que triste é "Estou Triste", de Caetano Veloso.

Miguel Vilhena: A "Farewell" é sobre dizer Adeus. Mas se fosse um vídeo era tipo um GIF de uma hora, comigo a dizer adeus (exemplifica teatralmente e de forma graciosa) ao Pedro e ao Tiago. E eles estavam lá ao longe, no mar, num barquinho a dizer adeus.


MS: E tu em terra e eles é que iam?


Miguel Vilhena: Epá não sei, podia ser ao contrário...

Tiago Vilhena: Olha, já sei, pode ser como no "Jurassic Park" quando a terra se abre mas tu não ficas tipo "Não, não vás!", aceitas essa separação porque tem que acontecer.


MS: Se houvesse um filme sci-fi de "Dreams To Be Awake" e fossem os protagonistas, qual seria o papel de cada um?

O Tiago sugere um filme "frito" realizado pelos Led Zeppelin "The Song Remains The Same" em que cada membro da mítica banda desempenha o papel dele próprio.

Miguel Vilhena: Imagina um planeta tipo Blade Runner onde há naves espaciais, mas uma cena pós-apocalíptica. Tudo f*dido. Mas assim mais afastado da zona urbana, há um castelo medieval gigante e eu sou uma espécie de um mago que é o dono do castelo, malvado e tenho uma espada. Mando poderes e tenho uma espada.

Tiago Vilhena: Eu sou um gajo que controla a água. Consigo fazer com que a água congele, fique líquida, com que fique vapor... Eu própria, como tenho água no meu corpo, consigo voar. Se eu não gostar de ti, ao teres água no teu corpo eu posso secar-te (faz sons estranhos de feitiços mortais)... Mas eu não ia fazer isso porque eu não ia ser vilão.

Miguel Vilhena: Eu queria ser um mau que tem um fundo bom, tipo o Satan do Dragon Ball.

Pedro Castilho: Eu não vou chegar a lado nenhum, com a minha personagem. Vou só andar lá a fazer viagens no tempo.


MS: A fugir destes gajos?

Pedro Castilho: Sim e só ando a ver. É o que eu sou.

A conversa desvia-se para a obra-prima que é "Mosca na Sopa", de Raúl Seixas, que contém um som irritante de mosca produzido por um sintetizador. Voltamos à conversa dos personagens...

Tiago Vilhena: O problema de ter este poder é que ele é mesmo muito poderoso e eu não quero fazer mal às pessoas mas naquelas alturas em que alguém me irrita eu ia ter o impulso de fazer uma coisa que depois me ia arrepender. Quando há muito poder, isso pode ser mau... Até o Tio do Homem Aranha diz isso ao Homem Aranha: "Com grande poder vêm grandes responsabilidades".

Inicia-se uma conversa sobre os benefícios do poder da paragem do tempo. Miguel cobiça avidamente este poder e sugere uns planos maléficos para o seu uso.


MS: Vocês têm algum ritual nos ensaios e antes dos concertos?


Respondem que Pedro já tentou implementar o abraço de grupo, que não chegam a fazer, poque "tá sempre tudo mal disposto".


MS: O que é que podemos esperar para o novo álbum e o que é que muda deste o último?

Miguel Vilhena: Há montes de ideias, mas não é por ser segredo, mas nós nem temos a certeza do que é que vai entrar e o que é que vamos descartar. Ainda estamos muito a apalpar terreno, nós também não sabemos...

Tiago Vilhena: Desde que saiu o álbum, todos nós desenvolvemos técnicas e gostos pessoais. O próximo álbum é capaz de ser uma fusão de todo este desenvolvimento que tivemos.


Sem comentários:

Enviar um comentário