segunda-feira, 23 de maio de 2016

Álbum da Semana: Isn't Anything - My Bloody Valentine

Hoje o álbum da semana vem na sequência do aniversário de Kevin Shields, que completou dia 21 de Maio 53 anos. Lembro-me da primeira vez que ouvi falar de shoegaze, estava na biblioteca municipal e aparece o Luis (Teixeira) e fala-me de My Bloody Valentine, de The Jesus and Mary Chain e No Joy, de todo o mundo a rondar o noise e os movimentos underground, do olhar para os sapatos... Pensei "quem é que queria ir ver uma banda que olhasse para os pés todo o concerto"... Cheguei a casa e ouvi Loveless todo de uma vez. Anos depois tomei a cena shoegaze um pouco mais a fundo e peguei na discografia de My Bloody Valentine. Isn't Anything foi o disco que mais me ficou na cabeça de todos eles.


O disco foi lançado em Novembro de '88, o primeiro álbum de longa duração dos irlandeses, para muitos o disco que marca o início do shoegaze. Começa com um atípico Soft As Snow (But Warm Inside), mas que já tinha a guitarra distorcida presente em todo o disco, com as vocais mais perceptíveis de todo o álbum, cantadas por Kevin Shields, onde se fala explicitamente da prática do amor, com especial destaque para o baixo de Debbie Googe. Continuamos com Lose My Breath, a minha favorita do álbum, que é no fundo uma das faixas mais melancólicas e introspetivas de My Bloody Valentine. Uma guitarra acústica ecoada, com poucos e simples acordes, mas que funciona na perfeição ao criar a atmosfera densa na qual as vocais de Bilinda Bitcher sobressaem. O refrão não passa de um simples "uuuhhh uhhh", como a banda nos habituou ao longo dos tempos, mas os versos estão carregados de um sentimento muito mais negro que o normal em MBV. Depois disso Cupid Come e (When You Wake) You're Still In A Dream, ambas com vocais de Kevin Shields e riffs ruidosos, mas perceptíveis e alegres, algo catchy, o segundo mais devastador que o primeiro. No More Sorry é aquela faixa para se ouvir deitado na cama o dia todo enquanto se chora por alguma razão. Um ambiente ruidoso completado por uma melodia extremamente pessoal para Bilinda, acerca do pai do seu filho Toby, que a maltratava - "Loved me Black and Blue".

"Ever since Isn’t Anything I had panic attacks. Toby’s dad treated me really bad, which I’ve told about in No More Sorry. All of a sudden he wanted joint custody and I was frightened. The hypnotic therapy made things from my childhood resurface which explained why I had been living with such a man. I was a nervous wreck and I realised that a lot that happened when I was a kid shouldn’t have happened. A lot of it came out in my lyrics. A lot of discomfort."

Segue-se o mesmo ambiente dreamy com All I Need, vocais quase num jeito spoken word, agora sim, já impercetíveis, duas notas que se repetem ao longo da faixa e apenas duas, alternando como ondas, são tantos os pedais que e impossível perceber quais são, apenas se sabe que o som é agradável, é agridoce, distorcido mas suave, uma antecipação do que há em quase todo o Loveless. Feed Me With Your Kiss vem acabar com os sonhos, o disco acorda, uma bateria demolidora mas as vocais continuam longas. Potente esta faixa, assim como Sueisfine, que será exatamente isso, uma miúda chamada Sue que está fine, ou não tão fine, já que a música se relaciona com suicídio. A energia quebra um pouco em Several Girls Galore, mas retoma o seu pico em You Never Should, o tremolo é evidente, tremolo esse que se popularizou em Loveless. Nothing Much To Lose mantém o registo das faixas anteriores e I Can See It (But I Can't Feel It) vem finalizar abruptamente o álbum. Mais uma vez temos uma canção deprimente cantada de forma alegre em algo como don't worry, está tudo bem e a vida continua, tocada com guitarra tremolo e guitarra acústica para soar bem bonitinho, cantada com frases longas e dreamy, o que resume o álbum numa só frase no fundo.

Ouçam aqui o álbum completo. 

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