quinta-feira, 25 de agosto de 2016
Crítica: Frank Ocean- Blonde
Chegou por fim o muito aguardado segundo disco oficial, pelas burocracias da divulgação mundial que não tolera álbuns visuais. Muito menos imediato e subtil que o clássico debut "Channel Orange", Blonde é imperceptível à primeira vista. A fragilidade emocional que torna Frank único continuam presentes no sophomore, no entanto não é na composição honesta e delicada que o disco capta os seus momentos mais brilhantes, é na produção arrojada e extensamente refinada que fazem de "Blonde" uma das audições mais sofisticadas do ano, embora os vocais de Frank sejam usados maioritariamente pelo decorrer do disco como um instrumento/trunfo.
A música começa com o haunted "Nikes", Frank aborda o consumo, a malícia e a falsidade de pessoas que se cruzaram na vida dele após a sua ruptura pós "Channel Orange". Aqui fica o sintetizador inicial que faz lembrar uma sample retirada de por exemplo "To The Last" de James Blake... Aqui Frank escreve um novo capítulo na história do R&B moderno, onde a produção e a melodia contam tanto ou mais que os vocais. O disco continua a afogar-se numa piscina de brilhantismo nascente, onde Frank quer captar a atenção do ouvinte from the gecko*... Ivy é um esforço cuidado e imprescindível no que toca a todo o R&B feito no futuro. A guitarra pedal drenched solarenta e tímida deixam todo o pensamento de Frank voar em palavras eternas e mais intencionais que nunca: "I thought that I was dreaming, When you said you loved me, It started from nothing, I had no chance to prepare, I couldn't see you coming, It started from nothing, I could hate you now, It's quite alright to hate me now (...) If I could see through walls, I could see you're faking, If you could see my thoughts, You would see our faces", sugerem uma mágoa profunda que nunca será ultrapassada ou sequer esquecida. Essa mágoa converte tudo aquilo que Frank escreve em pura dor palpável. Pink + White (com Beyonce) são outros esforços memoráveis, Frank solta um grito de confiança e as suas cordas soltam-se num Soul e vocais penados e oscilantes. O Interlúdio "Be Yoursef" será outra lição a reter mas é num estado muito precoce do disco que Frank atinge uma grandeza inalcançável, tanto a nível de composição ou voz, claro, enaltecidas pela super produção sinth-full de "Solo", um clima cinzento imagina Frank num traje de anjo e um coro gospel à sua atrás a abençoar cada esforço melódico. A isto chamamos de vanguarda do R&B, há medida que o disco vai-se tornando ainda mais profundo e confuso em "Skyline" (com Kendrick Lamar), sempre com grande nota de destaque para os instrumentais escolhidos que colhem sanidade e purificação no seu estado mais onírico possível.
Dando a ilusão, por vezes, de fundir o Rap com o Soul, Frank Ocean também foge dos capítulos inconvencionais e explora temáticas funky-groove orientadas para pistas de dança seletivas, como no Boom Bapy "Nights" ou "Close To You" e aqui espelha-se toda a influência que James Blake possa ter tido na escolha específica dos beats/instrumentais ou mesmo em certos momentos onde Frank escolhe arranjos vocais mais arrojados. Antes em "Pretty Sweet" capta-se uma faceta mais experimental, num caos de dissonância e eco que antevêem a faixa.
Frank termina com três chaves de ouro introspetivas e alienadas como certos momentos da sua composição o sugerem: "I'm living over city, And taking in the homeless sometimes, Been living in an idea, An idea from another man's mind, Maybe I'm a fool, To settle for a place with some nice views, Maybe I should move, Settle down, two kids and a swimming pool, I'm not brave, I'd rather, live outside, I'd rather live outside, I'd rather go to jail, I've tried hell", extraí-se todo esse descontentamento e desconforto em "Seigfried", para terminar com os também escuros "Godspeed" (com Kim Burell) e Futura Free.
De hoje em diante a história do Soul moderno, Nu-Jazz Fusions, Rap oriented e claro o R&B é dividido em duas linhas de tempo: Antes de "Blonde" e depois de "Blonde".
*from the gecko- Desde o inicio
Ouçam "Blonde" de Frank Ocean na íntegra, aqui
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