Na passada sexta feira 13 a redação experienciou o contrário do infortúnio. Se o azar é um elemento comum nas vicissitudes da vida, teremos sempre a folgança irradiante dos PISTA, que muito nos tiveram para contar num paleio que envolveu humor negro, destinos tropicais e uma verdade inexpugnável: toda a gente gosta de festa. Cláudio Fernandes, Bruno Afonso, Ernesto Vitali e Nick conversaram com o Montijo Sound e o resultado está cá fora...
MS: O que é que mudou desde a altura em que puseram os pés no Bistroteca, no ano passado? Agora há um baixo que não existia e que marcou uma evolução na banda. Como é que isso se processou?
Cláudio: É uma evolução em termos de som ao vivo... o baixo já existia lá, embora não tivesse sido gravado mas pronto, ele existia. Pá, então a certa altura decidimos... "Bora usá-lo ao vivo!", até porque era uma "marca" nossa mas... quem somos nós para criar uma marca? Então decidimos começar a usar um baixo ao vivo e o problema é que é viciante... e gostamos da companhia.
MS: De onde surgem as vossas músicas? Há músicas que são apenas instrumentais, como "Ar de Inverno" e "Bamboleio"... Essas músicas nascem do vazio ou é tudo intencional?
Cláudio: Por exemplo, há montes de malhas sem voz... da mesma forma que não gravámos baixo porque a voz não cresceu com a música... A música cresceu, não tinha voz e nós não sentimos necessidade de meter uma voz porque, por exemplo, o jogo de guitarras já era suficientemente vocal. Eu pelo menos não encalho muito com a cena de ter voz. Embora, nas últimas coisas tivemos algum cuidado especial para meter voz, ou existe uma ideia de voz a priori, mas houve coisas que também surgiram de ideias de voz como a "Bamboleio", é uma cena de voz. Sentimo-nos OK em só ter guitarras a fazer essa parte vocal da canção.
MS: "Bamboleio" trouxe um concerto de apresentação com vários artistas... Porquê trazer BRO-X?
"Porque não trazer bro-x?"- questionaram os PISTA
Cláudio: Porque no fundo, no fundo há um BRO-X em cada um de nós. Ele faz parte de nós. Já tinha acontecido no Barreiro Rocks 2013, tocarmos uma malha e achámos fixe.MS: Falando agora outra vez do baixo, expliquem-nos a vinda do Nick. Como é que surgiu o convite para ele se juntar a vocês?
Bruno: Era o único!
Inicia-se um ataque ao Nick e por fim, depois de algumas intervenções, Cláudio admite o que todos esperávamos ouvir...
Cláudio: Eu vou admitir que estava com um copinho a mais (a propósito de ter tido a ideia de convidar o Nick).Bruno: Analisando a história dos PISTA, ele já conhecia o nosso trabalho, então não foi muito difícil chegar lá e dizer assim: "Queres participar?".
MS: Quais são as vossas maiores influências a nível musical, não necessariamente para o som dos PISTA?
Bruno: Sinceramente, olha, eu já nem sei o que é que me influencia. Nos últimos dois anos posso dizer que quem mais me influenciou foi o Tony Allen do Fela Kuti.
Ernesto: Aquilo que me influencia é aquilo que me toca, o que me sensibiliza, qualquer tipo de música de onde eu possa espremer alguma coisa que me toque e que ache que me diga respeito e que eu respeite também, que admire dentro de qualquer estilo musical, basicamente. Não estou a ver assim estilos musicais que eu não goste, nem que seja punk pela energia, música clássica pela subtileza... Há sempre qualquer coisa boa a retirar da música.
Nick: Quarteto Marino Marini, o primeiro disco que eu ouvi na vida, Maradona e Rodney Mullen, um skater do caraças, tem aquele vídeo "People Are Strange", com os The Doors a tocar, buéda bom.
De seguida, Nick sugere um filme sobre a modalidade skate, editado pelas marcas e realizado por Spike Jonze, dando ênfase ao clip que tem como banda sonora "People Are Strange". Depois da resposta do Cláudio, visualizámos tão aclamada obra prima.
Cláudio: Não sei, eu sempre ouvi tanta coisa... Se me perguntares hoje, eu vou-te falar em Guns N' Roses mas não... Eu era muito miúdo do grunge... cenas assim, mas ao mesmo tempo, paradoxalmente, ouvia bué Guns N' Roses, aquilo a que tinha acesso. Por exemplo, ouvia a Super FM, na altura ouvia-se aquilo que passava na rádio. Era aquilo que tu ouvias, depois, dentro disso identificavas-te com algumas coisas mais, outras menos. Mas gosto de tudo. Sei lá, gosto de música eletrónica, gosto de hip hop, gosto de todos os tipos de rock.
MS: Vocês costumam dançar ao som do vosso disco ou isso é de algum modo estranho ou impensável?
Nick: Eu ouvi no ginásio para apanhar as músicas.
Cláudio: Eu ouço. Eu sou fã nº1, Nós somos todos fãs nº1 de PISTA. Mas por acaso nos últimos tempos não tenho ouvido tanto quanto isso, até porque temos andado a gravar coisas novas, percebe-las, retirar ou adicionar coisas. Estamos a pensar no disco seguinte mas sim, ouvimos muito a nossa própria música.
Os restantes consentem que também ouvem..
MS: Quando ouvem o "Bamboleio" onde é que se imaginam? Faixa por faixa?
Cláudio: "Ar de Inverno" é UK, tens aqui uns riffs meio britânicos mas é um UK multicultural. A "Bamboleio" é uma música pimba, na verdade pode ser ali numa terra qualquer no interior, podia ser tocada num acordeão. A "3-0" é samba, show de bola, um Brasil freak. A "Sal mão" é Mali, a "Ivone" de repente estamos em Cleveland ou assim... A "A Tal Tropical" de repente estamos no Hawaii... só porque me apetece. A "Onduras" é América Latina, podemos realmente estar em "Honduras" (se bem que isso é América Central). Na "PUXA" estamos em Angola, estamos no Vale. "Boxe Fantasma" é europeu, Bairro das Palmeiras, estamos no ginásio. "Boxe Fantasma" é um exercício, chama-se mesmo boxe fantasma em que tens que imaginar que estás a fazer boxe contra alguém. Epá, e a "Queráute"... não estás na Alemanha. Imagina que tu tinhas um bairro, como há um maioritariamente angolano ou da Guiné ou S. Tomé. Imagina, estás perto do Alentejo Litoral... Estás em Aljezur! Freaks alemães que estão em Portugal há 40 anos.
Nick: Porque o Estado paga-lhes e eles podem estar a cultivar ganza e a viver.
MS: Queremos ouvir um relato do concerto mais divertido que tiveram até agora.
Cláudio (após ter perguntado aos outros): Eu acho que foi para aí o segundo, no Talk Fest, poque estávamos bem e não havia pressão.
Nick: Parecíamos uns homens!
Cláudio: Ou então no Barreiro, em junho, quando eu estava "perdido". Deve ter sido muito divertido para vocês (risos gerais). Tivémos montes de azares, eu tava muito mal mas foi bué da bom. Estávamos ali desde as três da tarde com um calor infernal mas foi ótimo, estava toda a gente on fire.
MS: Conseguem percepcionar a existência de uma base de fãs/fiéis seguidores, ou nunca pensaram muito nisso?
Cláudio: Sabes qual é a coisa mais interessante em relação a PISTA, na minha opinião? Não há um segmento social que eu diga "estes são os fãs de PISTA". Qualquer pessoa pode ser fã de PISTA! Os meus pais gostam de PISTA. Eu acho interessante quando consegues chegar a pessoais de segmentos sociais tão distantes. É festa! Quem é que não gosta de festa?
Nick: Desde aquela criança inglesa abandonada no Algarve, pelos pais, até pessoas mais velhas, qualquer pessoa.
Cláudio: Sabes que nós temos um nickname para o saco que transporta os tripés da bateria, dos pratos? Maddie.
MS: A sério? Porque nunca sabem onde é que está?
Cláudio: Não... porque é uma coisa pesada, parece que estás a transportar o corpo da Maddie. Nós chamamos o "morto", eu depois posso mostrar o que é esse saco.
MS: Como faziam se vos dessem uma oportunidade utópica e única para mostrar a vossa música em qualquer lugar e para qualquer pessoa, em Portugal? O que é que decidiam?
Cláudio: Gostava de mostrar ao Rui Veloso, só para lhe mostrar o que ele perdeu ao não ter dado continuidade a sonoridade do "Baile da Paróquia". É grande malha e aquele gajo... perdeu aquilo! "Baile da Paróquia"... podia ser um tema nosso. Na boa.
Dito isto, os PISTA limitam-se a trautear o tema de Rui Veloso, o qual pode ser ouvido aqui:
Nick: Eu via-me a fazer o primeiro grande concerto no Túnel do Marão, com uma associação de claustrofóbicos.
Cláudio: Já que estamos em utopias, gostava de convidar para uma participação... o António Variações. Mostrava-lhe isto com gosto e fazíamos três, quatro, cinco, seis, sete discos...
Nick: Eu gostava de pegar no Luís Represas, nos Delfins e no Rui Veloso. Os três fizeram músicas de apoio a Timor. Gostava de pegar neles, e que fossem pedir desculpas ao povo timorense. É um povo que sofreu.
Ernesto: Eu gostava de mostrar ao Represas também... A sério.
Nisto Ernesto é atacado com piadas fortes devido a sua manifestação de simpatia para com Represas.
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