quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Crítica: Morgan Delt- Phase Zero
A Sub Pop tem-nos habituado ao longo dos anos com bandas de uma fragilidade sonora imensa, abençoadas pela nebulosidade do íncrivel mundo da editora americana. Percursores influentes como "Metz", "I Love You Honey Bear" ou o mais recente "Depression Cherry"... Toda essa nebulosidade viaja ocasionalmente até à década de 70 onde os sintetizadores fundem-se de forma mais fluída com as guitarras reverberadas que a cada acorde mudam de tom e viajam para mundos paralelos, onde a repetição, as haunted samples proporcionam medo, ou pânico...
Phase Zero é mais um esforço revivalista que vem a sublinhar toda a importância que Innerspeacker viria a ter em toda a cultura psicadélica. Gravado na Califórnia em casa, Delt convida o ouvinte a entrar num mundo perturbado e autista repleto de constrangimento sonoro, esquizófrenia e ecos sintetizados numa sala cheia de reverb e delay infinito. Toda essa magia experimental e psíquica fazem lembrar Pink Floyd numa fase ambulatória, esse Garage não era tão audível desde Innerspeacker, no entanto a produção soa muito mais arrojada que essa estreia brilhante na terra de baixo, embora ambas gravadas em casa sobre condições absurdas.
O disco começa com "I Don't Wanna See What's Happening Outside" e aqui espelha-se de forma menos subtil possível tudo aquilo que Delt andou a "comer" ao longo da sua infância, começando pelo título longo, fazendo referência a "Come Down Softly To My Soul" de Spaceman 3, mas não é só no nome... A timidez vocal e o sintetizador Blue Velvet criam um clima introspetivo, a repetição de "I don't wanna" e o início repentino de "System of a 1000 Lies" acusam o flagrante progressivo e o mantra infinito, como se ambas fossem só uma canção.
"Another Person" é também uma canção épica de ternura melódica, exprimida e espremida na escolha de notas mais cuidada, refinada e encaixada na própria temática angelical da faixa, não deixando outra alternativa ao ouvinte a não ser escutar e desejar nunca mais acabar e quando por fim acaba solta mais haunted samples, deixando o ouvinte num estado de expetativa total. Isto é perfeição pop.
Essa expetativa é correspondida por 3 minutos e 47 segundos de espasmos melódicos, vidros sintetizados partem-se provocando "Sun Powers", um dos grandes momentos do ano. São nesses momentos mais díspares e experimentais que Delt revela-se um compositor astuto e sem medo de recriar todo esse pop psicadélico reinventado vezes sem conta por mestres do ofício como Beatles ou Pink Floyd, mas com um twist pessoal, moderno e só dele.
Phase Zero é uma estreia invejável espelhando todas as suas influências em 10 faixas hiperativas, esquisitas e ambíguas, que de forma mais subtil possível reúnem todos os discos clássicos de Pop Psicadélico feitos de 1960 até 2010 num só. Essa visão distorcida de Delt só se torna mais nítida a cada audição, até chegar a um estado de beleza descomunal e de grandeza pop.
Ouçam "Phase Zero"
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Crítica- Dinosaur Jr.- Give a Glimpse Of What Yer Not
Há partida podiam chamar louco a J Mascis ou acusar o génio do noise de ter uma crise de meia idade, mas "Give A Glimpse Of What Yer Not", sem soar a pretensioso de uma banda experiente que já conquistou tudo na sua era de ouro do underground americano (chegando até a ir em tour com os Sonic Youth em 1987), Dinosaur Jr. conseguem manter a sua frescura e o fator cool que os tornaram nessas mesmas lendas do underground. Mas há uma diferença, essa maturidade é mais palpável que nunca e J Mascis tem perfeita consciência disso, o que o torna mais frágil que nunca, mas mesmo nesses momentos mais sérios do disco como em "Be a Part" ou "I Told Everyone" J nunca dá a sensação de estar totalmente entregue a esta condição de midle age rocker, aliás, ele contraria muito bem qualquer estigma que possa haver da sua idade no rasgante "Goin Down" e no Punk Pop "Tiny", mas é na composição do primeiro que vemos códigos preliminares que J talvez possa estar a usar para tentar explicar algo: "I can't go more than a day, I can't face myself (...) Are you with me? Are you with me when I'm gone? Are you with me? Are you with me? Come along"...
O disco começa a ficar ainda mais darker, sempre com J a dar aquele falso sentido de hostilidade que dão graciosidade ao génio, "Good To Know" é uma vénia a toda a skill de Mascis, todos os riffs inventados desde 1984 até aqui, toda a história de Dinosaur Jr. acabam por vir parar a essa faixa. Depois o Doom "Walk for Miles", marca todo esse percurso da banda e a rouquidão sugere cansaço mas Mascis levanta-se e grita "Set my heart is too" e apercebemo-nos que Mascis bebe da fonte da juventude.
Para terminar nas refletivas "Lost All Day", a sensivelmente afetiva "Mirror" que começa com confissões de uma vida "I've been crawling around since I met you" e no refrão "Waste of Time" sugerem uma vida inteira em busca de algo inalcançável. Para terminar com "Left/Right" que podia ter sido um êxito indie rock se tivesse sido libertado de 1992 a 1996.
"Give a Glimpse Of What Yer Not" é um dos esforços mais dignos da banda. Na capa vemos um homem a equilibrar-se no cume da montanha... De certa forma Dinosaur Jr. têm feito isso ao longo dos anos, adaptando-se a tendências, géneros musicais, culturas, tecnologias... E tudo graças ao seu maior impulsionador que teima em viver como se ainda estivesse nesses loucos anos 80. Toda esse esforço em trazer esse bocado de underground para os tempos modernos tornam J Mascis imortal, aconteça o que acontecer.
Ouçam "Give a Glimpse Of What Yer Not"
domingo, 28 de agosto de 2016
Comunicado IndieotaFESTAval
O IndieotaFESTAval, vem pedir desculpas, publicamente, pelo artigo escrito perto das 15 horas da tarde no Montijo Sound sobre o Time Out Bar. Todas essas informações nunca deveriam ter sido expressamente reveladas, principalmente em plataformas públicas.
Anunciamos o Time Out como apoio importante, mas não fundamental, do IndieotaFESTAval e estamos a lutar com todas as entidades para que o IndieotaFESTAval seja um festival bem sucedido e que possa acontecer anualmente no Montijo, em Setembro.
Esatamos a aproximar-nos do dia do evento, começa a saltar a pressão e no fundo esse artigo foi tudo fruto dessa pressão mal gerida e canalizada.
O festival vai realizar-se dias 8, 9 e 10 de Setembro, no Time Out Bar e no Bota Baixo, podem aceder a todas informações sobre o festival no site oficial IndieotaFESTAval ou na página de facebook IndieotaFESTAval. Dias 8, 9 e 10 de Setembro somos todos Indieotas.
Apoio Antena 3 e Cerveja Musa.
A segunda vi(n)da de Monkey Flag
Monkey Flag e as suas gravações domésticas de baixa fidelidade |
Da esq. para a Dir. : David (baixo), Miguel (Bateria) e Rochinha (Guitarra), os Monkey Flag no Montijo em Janeiro de 2016 |
A evolução é palpável mas todo esse potencial precisa de ser canalizado e convertido em gravações nítidas e eretas, para que haja segurança no momento crucial de qualquer banda: a apresentação dos temas ao vivo.
Iremos estar atentos ao trabalho de Monkey, fica a nota positiva de um grande concerto no Bota Baixo este passado sábado no bar de referência. Será que o Montijo está ciente e preparado para aquilo que vai acontecer daqui a sensivelmente uma semana?
Não ouçam Demo Tapes, esperem por algo melhor.
sábado, 27 de agosto de 2016
A virtude Sónica de Sunflower Bean
Certamente, o título do primeiro álbum dos Sunflower Bean chama-se Human Ceremony e não foi escolhido ao acaso. A humanidade sempre inventou rituais para se ligar ao Divino. Esta necessidade de conexão com a força vital do universo, que muitos filósofos glorificaram e outros ignoraram está estampada em todos os acordes do disco de estreia da banda nova-iorquina.
Fuzzed Out, Innerspeacker nostalga "Human Ceremony", de Sunflower Bean |
Alguém que não eu adoraria ouvir este disco em cogumelos. Não que os Sunflower Bean sejam psicadélicos no sentido em que uma banda como Spacemen 3 e Spiritualized o são, naquele sentiudo de repetição extensiva. Se os Smoke City e os Cloud Nothings fizessem um filho, que posteriormente desenvolvesse uma fixação por My Bloody Valentine (quem não?) ele tocaria nesta banda.
Falei em cinco bandas estabelecidas para falar de uma banda emergente, o truque de quem não domina a prosa e/ou o tema. Mas neste caso, é justificável: Ainda não tinha ouvido um álbum de “rock” (sim, eu sei) deste ano que não me desse vontade de dormir. E quando soube que Pitchfork escreveu bem sobre estes tipos, resisti à ideia de os ouvir. Porque a Pitchfork (e a Noisey também) é uma merda. Mas os Sunflower Bean não são uma banda-Pitchfork. Há momentos neste disco (Easier Said p.e.) menos enérgicos e mellow de uma forma que seria chunga se não fossem seguidos de cargas de porrada sónica.
Sunflower Bean tem as influências todas no sítio. Tem a eletricidade. Tem o fuzz gostoso nas guitarras. Tem uma bateria com aquela simplicidade de que o rock cada vez mais ressaca. Mas acima de tudo, tem uma malha que soa a Deus. Mesmo que não acreditem num Deus intervencionista, é impossível ouvir a "I Was Home" sem nos sentir no centro do que os índios Cheyenne chamam "O Grande Círculo do Céu, da Terra e dos Sonhos". Não estou queimado, não tenho um charro ao canto da boca e não estou a dizer “Deixa a música entrar man...” enquanto fecho os olhos. Simplesmente "I Was Home" entrou para mim na “caixinha” dos temas incontornavelmente perfeitos. Bem ao lado da "After Hours" dos Velvet*, da Sexual Healing do Gaye, da "Canção de Embalar" do Zeca e da "Wonderful World" do Sam Cooke.
Se calhar faço estas comparações porque estou louco. Mas não quero saber.
O Human Ceremony vai passar a fazer parte das minhas homilias. Recomendo-vos que façam o mesmo. Porque mesmo que a banda sonora do momento final seja Capitão Fausto, ascender aos céus só será possível com fé no Rock n Roll. Os Sunflower Bean são um sinal, e dizem-nos “Não deixem de acreditar! Let's make rock & roll not great again!”
Texto de Hélder Menor
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
Disco de estreia The Sunflowers tem os dias contados
The Sunflowers hoje perto das 10 da manhã anunciam cartaz promocional com datas de apresentação de disco de estreia que segundo esse mesmo cartaz sai dia 19 de Setembro para o mundo e vai chamar-se "The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy". Disco é editado pela editora portuense Cão da Garagem e sairá nos formatos digitais, LP, Vinil e Cassete. Conta com os singles "Zombie" ou "Hasta La Pizza/Rest In Pepperoni", cujo vídeo foi lançado hoje pelos mesmo The Sunflowers. Entre as várias datas os destaques vão para o próximo Reverence Valada 2016 e o nosso IndieotaFESTAval aqui no Montijo onde tocam dia 10 de setembro.
Setlist de "The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy"
1. Cool Kid Blues
2. The Witch
3. Mountain
4. Charlie Don't Surf
5. Post Breakup Stoner
6. Zombie
7. Talk Shit / People Suck
8. Forgive Me, Father, For I Have Sinned
9. Hasta La Pizza / Rest In Pepperoni
10. The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy
Vídeo para "Hasta La Pizza/Rest In Pepperoni":
Toda a gente gosta dos Postcards
Johnny Pina dos Postcards From Wonderland |
O irreverente Hélder Menor |
Trio Juvenil do Barreiro é muitas vezes comparado a Wire, Ramones ou Sex Pistols, pela provocação e o choque... O minimalismo sonoro e a simplicidade lírica, o tom anarquista e o descontentamento político fazem das atuações de Postcards From Wonderlands um autêntico festim de cores, barulho e ruído grátis, tudo num tom de protesto. Abençoado por Nick Suave e a Hey! Pachuco, Hélder Menor, guitarrista e vocalista vive para a música, envolvendo-se numa série de projetos malucos, todos com a mesma finalidade: a música. Convivendo com músicos, produtores e técnicos de som, Hélder está inserido no seio da entusiasmante cena musical barreirense, onde vê passar todos os dias no Pouca Terra (Nick Suave) artistas como João Paulo Daniel (Beautify Junkyards), Cláudio Fernandes, Ernesto Vitalli ou Bruno Afonso (PISTA), Miguel Afonso (Bro-X) ou o próprio Nick Suave (Nicotine's Orchestra) que serve de seu patrão/mentor, onde Hélder ajuda no que for preciso: Ajudar a organizar eventos inventados pela muito amada na comunidade Hey! Pachuco, a estar no estúdio a produzir/gravar nos estúdios de Nick mas principalmente fazer Panque Roque: "Eu podia estar a falar de The Velvet Underground durante horas e horas e horas..", disse Hélder quando o conheci, mas não é nessa Nova Iorque baroque que Postcards From Wonderland vão buscar o seu som... O homónimo lançado em 2015 é cru e mínimo, como se pede aos punksters da nova era. "Pepsi Cola" ou "Canção do Puto" não fogem às temáticas mais díspares e aleatórias, mas no fundo não são esses os princípios do Punk? O genial é como essa estética é copiada a pente fino, dos três acordes previsíveis, a um estilo despreocupado e imaturo até aos trajes loucos usados em palco. Toda essa energia fez Postcards tocarem no Barreiro Rocks, o festival de referência na margem sul no que toca ao Garage/Punk, onde tocaram ao lado de nomes como The Sunflowers, Cave Story ou The Dirty Coal Train. No fundo o festival é criado sobre ideais de amizade, comunhão e um só propósito de divulgar um dos géneros mais negligenciados dos últimos anos, o Rock & Roll. Quem toca no Barreiro Rocks é catapultado para a superfície e isso é inegável. Sejas bom ou mau, se tocas no Barreiro Rocks é porque o teu Punk é audível!
Joana cantou "Bobby" como Amy cantou "Rehab" |
E o Punk Roque não é só o som, toda a gente sabe que aquilo que faz o Punk é a atitude! Por isso depois de ouvirmos "Song for Mandela" e depois de perguntarmos à Joana e ao Johnny o que acham de Punk, faço esta pergunta? Será que o Punk está mesmo morto? A resposta a essa pergunta: Não, o Punk está mais vivo que nunca.
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
Crítica: Frank Ocean- Blonde
Chegou por fim o muito aguardado segundo disco oficial, pelas burocracias da divulgação mundial que não tolera álbuns visuais. Muito menos imediato e subtil que o clássico debut "Channel Orange", Blonde é imperceptível à primeira vista. A fragilidade emocional que torna Frank único continuam presentes no sophomore, no entanto não é na composição honesta e delicada que o disco capta os seus momentos mais brilhantes, é na produção arrojada e extensamente refinada que fazem de "Blonde" uma das audições mais sofisticadas do ano, embora os vocais de Frank sejam usados maioritariamente pelo decorrer do disco como um instrumento/trunfo.
A música começa com o haunted "Nikes", Frank aborda o consumo, a malícia e a falsidade de pessoas que se cruzaram na vida dele após a sua ruptura pós "Channel Orange". Aqui fica o sintetizador inicial que faz lembrar uma sample retirada de por exemplo "To The Last" de James Blake... Aqui Frank escreve um novo capítulo na história do R&B moderno, onde a produção e a melodia contam tanto ou mais que os vocais. O disco continua a afogar-se numa piscina de brilhantismo nascente, onde Frank quer captar a atenção do ouvinte from the gecko*... Ivy é um esforço cuidado e imprescindível no que toca a todo o R&B feito no futuro. A guitarra pedal drenched solarenta e tímida deixam todo o pensamento de Frank voar em palavras eternas e mais intencionais que nunca: "I thought that I was dreaming, When you said you loved me, It started from nothing, I had no chance to prepare, I couldn't see you coming, It started from nothing, I could hate you now, It's quite alright to hate me now (...) If I could see through walls, I could see you're faking, If you could see my thoughts, You would see our faces", sugerem uma mágoa profunda que nunca será ultrapassada ou sequer esquecida. Essa mágoa converte tudo aquilo que Frank escreve em pura dor palpável. Pink + White (com Beyonce) são outros esforços memoráveis, Frank solta um grito de confiança e as suas cordas soltam-se num Soul e vocais penados e oscilantes. O Interlúdio "Be Yoursef" será outra lição a reter mas é num estado muito precoce do disco que Frank atinge uma grandeza inalcançável, tanto a nível de composição ou voz, claro, enaltecidas pela super produção sinth-full de "Solo", um clima cinzento imagina Frank num traje de anjo e um coro gospel à sua atrás a abençoar cada esforço melódico. A isto chamamos de vanguarda do R&B, há medida que o disco vai-se tornando ainda mais profundo e confuso em "Skyline" (com Kendrick Lamar), sempre com grande nota de destaque para os instrumentais escolhidos que colhem sanidade e purificação no seu estado mais onírico possível.
Dando a ilusão, por vezes, de fundir o Rap com o Soul, Frank Ocean também foge dos capítulos inconvencionais e explora temáticas funky-groove orientadas para pistas de dança seletivas, como no Boom Bapy "Nights" ou "Close To You" e aqui espelha-se toda a influência que James Blake possa ter tido na escolha específica dos beats/instrumentais ou mesmo em certos momentos onde Frank escolhe arranjos vocais mais arrojados. Antes em "Pretty Sweet" capta-se uma faceta mais experimental, num caos de dissonância e eco que antevêem a faixa.
Frank termina com três chaves de ouro introspetivas e alienadas como certos momentos da sua composição o sugerem: "I'm living over city, And taking in the homeless sometimes, Been living in an idea, An idea from another man's mind, Maybe I'm a fool, To settle for a place with some nice views, Maybe I should move, Settle down, two kids and a swimming pool, I'm not brave, I'd rather, live outside, I'd rather live outside, I'd rather go to jail, I've tried hell", extraí-se todo esse descontentamento e desconforto em "Seigfried", para terminar com os também escuros "Godspeed" (com Kim Burell) e Futura Free.
De hoje em diante a história do Soul moderno, Nu-Jazz Fusions, Rap oriented e claro o R&B é dividido em duas linhas de tempo: Antes de "Blonde" e depois de "Blonde".
*from the gecko- Desde o inicio
Ouçam "Blonde" de Frank Ocean na íntegra, aqui
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
PISTA a quebrar barreiras em "A Tal Tropical"
Jenny Larrue é a tal tropical |
Depois de "Puxa", Pista lançam vídeo para "A tal Tropical", sexta faixa de "Bamboleio", lançado em Novembro do ano passado.
O vídeo protagoniza a modelo/atriz luso-africana transexual Jenny Larrue, que aparece num outfit mínimo e provocador... Um fato-de-banho, uma maquilhagem glam enaltecida por unhas verdes, pulseiras e colares multicolores e uma camisa de flanela colorida enquanto faz bolhas de sabão e joga frescobol num fundo verde. Cláudio, Ernesto e Bruno também aparecem no vídeo a dançar numa sala escura fazendo movimentos aleatórios enquanto Jenny acentua poses lentas e sensuais...
O vídeo é realizado por Marta Leal e o próprio Cláudio Fernandes e é claro um exclusivo Antena 3.
Podem ver o vídeo em baixo:
Ouçam "Bamboleio" aqui
terça-feira, 23 de agosto de 2016
BADBADNOTGOOD - IV
Numa fase da minha vida dei por mim a querer entrar num banho de imersão paralisante que me fizesse submeter de uma forma saudável às necessidades do Ego. Os cães
ladram, a caravana passa e nós vamos com ela sem destino traçado ou objetivo
findado, fechando os olhos às nossas próprias necessidades e à força de vontade
que impulsiona os nossos específicos dons. Nesta corrida da rotina é fácil cair
na cegueira de não percepcionar o caminho fácil e é igualmente tentador optar,
por insegurança, pelas tentativas de avistar onde se encontram os adversários e
comparar a nossa fibra com a dos outros. O caminho fácil é o corta-mato e
caracteriza-se pela praticidade de dar primazia aos desejos do nosso íntimo,
enquanto perdemos a vergonha de sentir amor-próprio. Como dito, nesta altura da
minha vida experienciei um abismo carregado de dor existencial e arduamente
encontrava terapia musical que apaziguasse essa lacuna… Até à imersão auditiva
nos BADBADNOTGOOD, que tiveram um papel de guia espiritual no tal estado mental
cíclico carregado de despersonalização e ausência de sentimentos. O quarteto
canadiano é oriundo de Ontario e funde o jazz
moderno com o hip hop entrelaçando o baixo, o saxofone, o teclado e uma bateria
que convivem como amigos inseparáveis numa saída à noite. O seu quinto e mais
recente álbum de estúdio, IV, é um dos melhores trabalhos concebidos
neste ano. O trabalho é composto por 11 faixas, na sua maioria instrumentais
(com excepção de “Time Moves Slow”, “Hyssop of Love” e “In Your Eyes”). Talvez
esta fórmula de permanência pelos instrumentais seja mais que digna: o grupo é
perito na missão de criar um som tão rico em suavidade e groove sustentado por um baixo áspero, dando permissão à nossa voz interior
para tratar do resto.
IV é permissão de entrada num
reino soporífero onde o baixo é o Monarca de uma corte onde os restantes
instrumentos produzem a sua magia ludibriante em torno dos clássicos ritmos da
escola jazz. “And That, Too” abre o disco numa apresentação misteriosa que dá
primazia ao sintetizador que ecoa psicadelismo, uma flauta que cria um ambiente
sinistro e por fim um honroso solo do saxofonista Leland Whitty.
Partimos para “Speaking Gently”, a
verdadeira aposta numa área fora da zona de conforto. É uma malha funky que combina os sons do synthwave, a música eletrónica retro dos 80’s com um toque espacial e psicadélico. “Speaking
Gently” não causa vontade de exteriorizar movimentos de dança porém consegue
criar um estado de dança interior semelhante ao consumo de THC. Consigo aperceber-me
de uma certa sinestesia devido ao facto de associar, a esta faixa, uma estética
de cores fluorescentes ou néon. Esta experiência sensorial progride consoante o
acelerar da frenética bateria. Fiquei emocionalmente grudada nesta faixa, a
qual repeti vezes sem conta e coloquei num pedestal... Fechem o disco, já
descobri a pólvora. “Time Moves Slow” é o single do disco e um dos prazeres que já
pode ser escutado na Antena 3. O tema r&b
é intimista e sedutor, cantado pela voz soul e frágil de Samuel T. Herring
(Future Islands). Fala-nos do insuportável passar do tempo durante o final de
um relacionamento íntimo (não necessariamente amoroso). “Running away is easy/
It’s the leaving that’s hard” é a frase eternizada a retirar deste disco. “Confessions
Pt II” é uma epopeia narrada pelo engenho do saxofone de Colin Stetson,
convidado especial dos BBNG. “Lavender”
tem aparticipação do DJ e produtor KAYTRANADA é a faixa mais pesada tal é a
força do baixo subjugado à luta de um sintetizador. “IV”, que dá nome ao
disco, é o porto seguro do talento deste quarteto e a razão pela qual estes se
juntaram: improvisação jazz no seu
estado mais puro. O erotismo e a classe ressurgem na voz de Charlotte Day
Wilson’s em “In Your Eyes”, balada que
nos transporta para um bar sofisticado com um copo de whisky na mão. Estas
faixas mencionadas foram as que mais se destacaram num acervo de temas brandos,
doces e comprovadores de que não há excepções para o poder intrusivo do jazz. Os BBNG transitaram de um
ábum mais agressivo, noturno e fechado na esfera hip hop/jazz (III) para outras
sonoridades e uma linha melódica menos confusa. A experimentação melódica e a
adoção de vários estilos que no fim de uma faixa se completam permitem-nos criar
uma linha narrativa e estimular outros estilos musicais que nem julgávamos
possível apreciar apaixonadamente, um disco que se vive dissecando cada
faixa após uma escuta integral. IV tem poderes curativos e, de forma lenta, amenizou um fosso emocional que era apenas fruto da minha ansiedade. É uma Ode aos momentos fugazes e ao prazer das relações humanas, às conquistas
pessoais e ao amor próprio.
domingo, 21 de agosto de 2016
Queráute, a malha do espírito livre
"Queráute" a ser tocado em casa de Pista, mais recentemente nas festas do Barreiro |
"Queráute" no Outfest, ainda com Nick Suave |
"Queráute" no Time Out (Montijo) |
O intuito progressivo e o mantra infinito, vocal hipnotizante e desconfortante... A voz rouca de Cláudio e Ernesto, enfraquecidas pela força da repetição incutidas na palavra... A verdade é que nos últimos concertos de Pista, Queráute tem-se tornado num dos momentos mais marcantes e memoráveis de qualquer concerto da banda. Alex D'alva Teixeira (D'alva) tem acompanhado a banda pela estrada, apoiando Cláudio nos back vocals. Essa presença e energia evidente de Alex colocam Quéraute num pedestal enorme. O público manifesta-se de várias formas, quer dizer, já vimos gente inconformada com o ruído insuportável, cabeças agitam em tom de concordância e consenso, corpos agitam-se com a inquietude do ritmo, já houve relatos de paralisia... Todas estas manifestações ocorrem de acordo com a gravidade da faixa, ora curta e convencional ora prolongada por um estado de espírito insolente. Toda essa atitude Punk é necessária para que a música seja tocada de forma mais crua e visceral possível.
No Super Bock Super Rock deste ano um grupo de pessoas baixa-se durante "Queráute", sobre a repetição da palavra e a descarga de adrenalina que envolvia o grande momento da explosão |
Essa prolongação carregada de feedback, dissonância, ruído branco (por vezes) e o habitual guincho vocal são alguns dos momentos mais marcantes de toda a cena underground atual. Para fotógrafas como Vera Marmelo, captar momentos tão incomparáveis como estes são só pequenas formas de homenagear este pequeno (12 minutos) monumento Punk chamado Queráute. Ao longo dos anos a faixa ganhará ainda mais importância e com o tempo influenciará outros rebentos a criar uma banda de Punk. Quanto a "Bamboleio", outros dos discos mais notáveis alguma vez feitos em Portugal, ficam dois sentimentos. O primeiro é o querer e a vontade de ouvir estas eternas faixas para todo o sempre, sem alguma vez nos cansarmos delas ou ficarmos saturados, seja no disco ou ao vivo. O medo que um próximo disco não soe igual a este, a tristeza desse facto. O segundo sentimento: O amor e confiança que sentimos por estes três pioneiros não nos dão outra alternativa a não ser confiar cegamente em tudo aquilo que eles fizeram e que ainda haverão de fazer em prol da música cantada em português.
Cláudio em busca do feedback durante "Queráute", com Alex D'alva Teixeira a fazer vibrar o público no Super Bock Super Rock deste ano |
"Blond" é o muito aguardado segundo longa-duração de Frank Ocean
Depois de vários "jajões" (no calão mais usado na tuga para "falsa partida"), Frank Ocean espanta o mundo com o seu muito antecipado e hiperboladamente falado "Blond", segundo disco do cantor de R&B, disco que sucede ao clássico instântaneo "Channel Orange", que inspira uma nova geração de cantores negros a fundirem o Soul e o R&B com outras auditivas urbanas como o Rap ou o hip-hop.
"Blond" é o segundo disco se não contarmos com "Endless", álbum visual que o cantor havia lançado há um dia atrás via Vimeo, um vídeo de 45 minutos contendo "Nikes", single que antecipava este último "Blond", cujo capa aparenta ser Frank Ocean de tronco nu com o cabelo pintado de verde e com a cara tapada, com um penso no indicador esquerdo.
O extraordinário são as várias colaborações no álbum: Frank Ocean dá crédito a dois dos rappers mais elogiados da sua geração, Kendrick Lamar e Kanye West; Produtor britânico Jamie XX e lendas Beatles e o recente David Bowie também figuram nos créditos, sendo que para este disco Frank conta também com influências de Beach Boys.
Capa alternativa de "Blond" |
01 Nikes
02 Ivy
03 Pink + White
04 Be Yourself
05 Solo
06 Skyline To
07 Self Control
08 Good Guy
09 Nights
10 Solo (Reprise)
11 Pretty Sweet
12 Facebook Story
13 Close to You
14 White Ferrari
15 Siegfried
16 Godspeed
17 Futura Free
Vejam em baixo "Nikes" de Frank Ocean
Façam stream de "Blond" aqui
Oiçam "Endless" na íntegra aqui
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Old Yelow Jack libertam "Ten Tons" para disco de estreia
Capa de Cut Corners |
A faixa tem colaboração de Diogo Antunes da Silva (SpiderTom) e o vídeo é realizado por Hen Koros Ribbon.
"Cut Corners" é o muito antecipado disco de estreia de Old Yellow Jack e saí dia 16 de Setembro nas principais plataformas de audição stream.
Dia 9 de Setembro tocam no IndieotaFESTAval, no Montijo e deverão apresentar essas faixas na íntegra.
Vejam vídeo de "Ten Tons" em cima ou ouçam aqui
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Saia à noite 7/8 a 13/8
Agosto é breve e intenso, como uma música que permanece em loop na nossa memória. Festas regionais, festivais, concertos na capital integram um cardápio com diversas opções e enquanto o lemos e ponderamos em como gastar o tempo livre até à chegada do mês que o Billie Joe Armstrong odeia, arranja-se tempo para um mergulho ou dois. Durante a semana que antecede o culto que é Coura temos as habituais arruaças no Musicbox, Lux Frágil e DAMAS Bar, assim como a terceira edição do Sol da Caparica. O pouco mais que esta semana oferece pode ser conferido em baixo:
11 de agosto, quinta feira
Celeste/Mariposa é um duo lisboeta que celebra a música dos PALOP numa sonoridade que descrevem como "Afro Baile suado". Docteur Traoré vem de Paris e complementa este alinhamento e promete muito afrohouse, afro-beat e motown. A entrada custa €6 até às 2h00 e €9 depois das 2h00.
O espanhol Alex Under é presença no Lux Frágil. Não percas um dos maiores artistas da música techno em Espanha. A festa começa às 00h00 e ainda não há informações acerca dos preços.
11, 12, e 13 de agosto: quinta a sábado
Se ficas pela selva de asfalto que é a Margem Sul do Tejo, tenta ir a nado até à Costa da Caparica. Cá te recomendamos Orelha Negra, Mão Morta, Valete e Aline Frazão no dia 11; Melech Mechaya, Sérgio Godinho e Jorge Palma dia 12, e Keep Razors Sharp, Capitão Fausto e We trust no dia 13.
12 e 13 de agosto, sexta e sábado
O Sonic Blast é em Moledo e junta praia, surf e rock perto da fronteira nortenha. Para mais informações, clica aqui.
13 de agosto, sábado
Como sempre, é dia de mais uma noite MATERNIDADE no DAMAS Bar. Para mais informações, consulta a página do evento aqui.
quarta-feira, 3 de agosto de 2016
Festival Rama celebra o feminismo, o protesto e algures entre os dois o Punk
De 7 a 17 de Setembro Lisboa vira os seus olhos para o Rama Flor (Maternidade e ZDB), festival que celebra a cultura Queer e o feminismo, muito semelhante ao já extinto (em território luso) Lady Fest.
Entre cinema, diálogo e workshops, o destaque vai para as bandas que passam pelo Lounge, Rabbit Hole, Rua das Gaivotas 6 e a Galeria Zé dos Bois, os 4 palcos do festival, num evento que prima pelo DIY, o garageiro e acima de tudo o poderio Riot Girl, como forma de encaixar na temática do celebração.
O primeiro grande destaque vai para londrinos Shopping, que editam dois discos em 2015, incluindo o memofante "Consumer Complaints", super ataque de funk-punk minimalista e eclético, enaltecido pelo baixo boomerang que vai dos dark 70's e volta até ao lo-fi de novo século, evocando todo o new-wave e dramatismo melódico das cordas jangle, os vocais post-menstruation-chaos de Rachel Aggs, tudo isto envolto numa manta alegre e um espírito anarquista mas gentil.
No mesmo dia 9 de Setembro, também na Galeria Zé dos Bois, a baixa fidelidade e desacerto neurológico das Clementine traduz-se em garage essencialmente ruidoso que prima pela subtileza e o minimalismo de acordes viscerais e dissonantes, bateria sincronizada com esses acordes que são um grito para toda uma cultura riot girrrl, captando a ingenuidade de Kate Pierson, a rebeldia de Patti Smith, o "i don't give a shit" de Courney... Acima de referências mal tratadas pelo vocab-hipsto*, a química de Shelley Barradas e Helena Fagundes (ex- Dirty Coal Train) é comparada às riot-teens Dog Party.
Dois dias depois no dia 11 de Setembro as torres caem na Rua das Gaivotas. Dia 14 o Rama pára no Damas Bar com destaque para concertos de Ninaz, grupo de adolescentes no pico da puberdade come todo o sunshine psicho-doce* e o noise ruidoso de mid-90's, para se apresentar como uma das bandas mais promissoras do catálogo Xita Records. A fragilidade e imaturidade são desventradas pela bravura sónica e o entusiasmo tão contagioso como fiável.
A introspectividade de LauraL ou o blues-punk de The Younger Lovers são outras alternativas num programa que incluí documentário/curta de Vega Darling "LOST GRRRLS", no entanto o grande destaque de dia 11/9 vai para a jovem em ascensão Sallim, prodígio da Cafetra Records extraí vulnerabilidade e emoção em canções introvertidas, sentimentais e profundas, numa análise à composição ou os vocais frágeis de Franciska Salem, que resultam no muito elogiado "Isula", desfecho mais previsível depois de uma antecipação massiva deste trabalho de estreia.
As entradas para dia 9 de Setembro na Galeria terá um preço de 6€ e os ingressos podem ser adquiridos na própria Galeria Zé dos Bois, Flur e Tabacaria Zé Martins
Nos restantes dias a entrada é livre.
Evento Rama em Flor no Facebook: https://www.facebook.com/events/170014783420450/
Página de Facebook Rama em Flor: https://www.facebook.com/ramaemflor/?fref=ts
Oiçam aqui: Shopping, Clementine, Ninaz e Sallim
Entre cinema, diálogo e workshops, o destaque vai para as bandas que passam pelo Lounge, Rabbit Hole, Rua das Gaivotas 6 e a Galeria Zé dos Bois, os 4 palcos do festival, num evento que prima pelo DIY, o garageiro e acima de tudo o poderio Riot Girl, como forma de encaixar na temática do celebração.
Shoopping, Consumer Complaints (Milk Records,2015) |
Da dir. para a esq. Helena e Shelley, as Clementine |
No mesmo dia 9 de Setembro, também na Galeria Zé dos Bois, a baixa fidelidade e desacerto neurológico das Clementine traduz-se em garage essencialmente ruidoso que prima pela subtileza e o minimalismo de acordes viscerais e dissonantes, bateria sincronizada com esses acordes que são um grito para toda uma cultura riot girrrl, captando a ingenuidade de Kate Pierson, a rebeldia de Patti Smith, o "i don't give a shit" de Courney... Acima de referências mal tratadas pelo vocab-hipsto*, a química de Shelley Barradas e Helena Fagundes (ex- Dirty Coal Train) é comparada às riot-teens Dog Party.
Pequena legião de fãs aguarda pelo menos um EP de Ninaz este ano |
A introspectividade de LauraL ou o blues-punk de The Younger Lovers são outras alternativas num programa que incluí documentário/curta de Vega Darling "LOST GRRRLS", no entanto o grande destaque de dia 11/9 vai para a jovem em ascensão Sallim, prodígio da Cafetra Records extraí vulnerabilidade e emoção em canções introvertidas, sentimentais e profundas, numa análise à composição ou os vocais frágeis de Franciska Salem, que resultam no muito elogiado "Isula", desfecho mais previsível depois de uma antecipação massiva deste trabalho de estreia.
Sallim |
Nos restantes dias a entrada é livre.
Evento Rama em Flor no Facebook: https://www.facebook.com/events/170014783420450/
Página de Facebook Rama em Flor: https://www.facebook.com/ramaemflor/?fref=ts
Oiçam aqui: Shopping, Clementine, Ninaz e Sallim
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