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GED (À esq). e Proeza (À dir.). |
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David Salvador encarna proeza, um rapaz-feito-homem que se expressa através de rimas complexas e bastante dificeis de descodificar a olho nú, sempre acompanhado de GED, o rapper produtor, espécie de mentor... Olhem para mim! Até já estou a rimar!
Com um EP no bolso direito com selo Street Music Company, o céu deveria ser o limite, se não vivessem num país impiedoso com rappers, principalmente brancos...
Procurámos no Montijo alguém com talento e autonomia suficiente para tentar destacar-se neste mundo cão que é o Rap Nacional. Essa procura levou-nos até ao Samouco, onde no seu estúdio de gravação, tivemos uma conversa bastante agradável com os 100 Crew, sempre na esperança de conseguir descodificar essa lírica tão complexa, e que aparentemente, aparenta ser uma tarefa impossível...
MontijoSound- Olá. Tarde de Sol em vésperas de Inverno...
Proeza- É verdade, até vou tirar o casaco...
GED- Era bom que o Sol ficasse mais um pouco...
MontijoSound- Acham que a estação de um ano contribuí para a vossa música?
GED- Minimamente...
MontijoSound- David (Proeza), já lá vão alguns anos em que eras um miúdo a estudar na Dom Pedro Varela (Risos). O quê que mudou desde esses humildes tempos?
Proeza- Epá... Sinceramente? Cresci, também esses tempos foram há 6 anos para ai... Mas sinceramente, acho que não mudou nada. É mesmo assim.
MontijoSound- Mas lógico que desde miúdo, foste sofrendo alterações físicas, psicológicas... Essa mudança, foi bem recebida pelos teus familiares?
Proeza- Foi mesmo. Muito bem recebido. Também não tenho muitos familiares...
GED- Eu acho que descobriu boas novas amizades... Tal como eu, entrou na vida laboral muito cedo, e foi obrigado a crescer antes do tempo... Mas mudou bastante!
MontijoSound- David, mais conhecido por proeza aqui nas bandas da Street Music Company.. Porquê Proeza? Porque não Prodígio ou outro clichê qualquer?
GED- Eu comecei a chamar-lhe filho próg e começou daí..
Proeza- ...Ya, comecei a mostrar os meus sons aos meus amigos e disseram que eu era uma proeza e o nome, simplesmente ficou...
MontijoSound- Sentes que o Montijo está pronto para a vossa música? Analisando a lírica no seu máximo expoente, não é propriamente para crianças...
Ged- Não está, por causa dos invejosos... Eu costumo dizer que não há ouvintes, só há rappers. Todos querem ser ouvidos no Rap e ninguém quer ser ouvido.. É triste, mas é a verdade. E Eu acho que há muita coisa nossa que merecia ser ouvido. As nossas letras são de livre interpretação, e cada um interpreta como quer. Essa também é a beleza da coisa.
Proeza- As pessoas não conseguem ver um filme, se vivem numa curta-metragem... As pessoas querem ver tudo resumido, e não querem sentir tudo que a música têm para oferecer...
GED- Imaginem que o NGA são pipocas da Lusomundo, e nós pipocas do Continente... Quem te garante, que as pipocas do Continente não são iguais ou melhores?
MS- E o mundo? Acham que estão prontos para conquistar o mundo?
Proeza- O mundo é forte... (Risos).
GED- O meu objectivo é ser o artista na margem sul que mais bate no norte...
"Imaginem que o NGA são pipocas de Lusomundo, e nós pipocas do Continente... Quem te garante que as pipocas do Continente não são iguais ou melhores"
MS- Vamos começar por falar de uma música que eu até gostei minimamente... O vosso processo de composição? É pausado e complexo ou rápido e imprevisível? Por exemplo, tu (proeza) sentas-te com o teu produtor e têm um "brainstorm" de ideias que depois encaixam na letra ou pegam numa caneta e escrevem a primeira coisa que vos subir à cabeça?
GED- Tudo depende do beat... Raramente faço um beat a pensar em mim. Penso sempre no Proeza... Usamos samples e o david entra muito bem no seu personagem. Os samples são sacados da Internet as a letra é nossa. Estou a aperfeiçoar a minha técnica de produção e "sacar" samples da net deixará de ser uma solução...
MS- Falando agora do single "Mata D'olhar... Para quem escreverem esta música? Quem era a rapariga? (Risos).
GED- Por acaso não escrevemos para ninguém. Veio-nos à cabeça. Como a música "Droga de Pilão"...
MS- ...Titulo no mínimo polémico. (Risos)
GED- ...Sim mas tal como nessa música, são letras que vêm à cabeça. O David decora muito bem essas letras e os "Flows" saem naturalmente sem parecerem forçados...
MS- Para quem escrevem as vossas músicas?
Proeza- Para a nossa sociedade... Nós contamos com eles e eles contam connosco.
GED- Se o proeza estiver na mesa comigo e um grupo de amigos, e quando eu saio eles dizem que ele "rappa" melhor do que eu e quando eu volto e ele saí e dizem que eu "rappo" melhor do que ele... Ambos sabemos o que valemos. Essa fase para nós, francamente já passou...
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GED (á esq. e Proeza (lado dir.),entrarem no estúdio Street Music | , no Samouco. | | | | |
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MS- Pegando um bocado na pergunta anterior, a música do Proeza "Guerreira Mãe" é claramente um tributo à tua (Proeza) Mãe... Achas que ela têm sido fundamental no progredir da tua carreira? Recebes apoio suficiente dela?
Proeza- Sem dúvida! É o meu ídolo! Digo isto de boca cheia. Mesmo! Apoia-nos bastante, já mandou as nossas músicas para várias rádios... Está lá sempre!
Quando ouviu a música, chorou...
MS- Na música "Critérios" com o GED... Achas que a música é direccionada à sociedade de hoje? Eu vejo fúria politica, quase religiosa na letra... Que mensagem queriam transmitir?
Proeza- A mensagem? É como o Tupac diz" Se existem pessoas a viver na rua, porque é que não vão viver para a igreja?
GED- Fazem montes de igrejas, que se calhar nem sempre são bem frequentadas... Sem dúvida que há uma fúria politica na letra. Religiosa também. Por exemplo: Se violares um "puto" o quê que te acontece? E se for um padre? Absorvam e reflictam...
MS- Onde é que foi gravado esse vídeo?
GED- Foi no palácio do Rio Frio, em Palmela. Gravámos numa casa abandonada na zona, e acho que escolhemos o sitio ideal para marcarmos o impacto que queríamos causar...
Proeza- DEvia haver gente a viver lá e em vez disso estamos lá nós a fazer música...
MS- Vocês vivem entre duas cidades: Montijo, que vos viu crescer como seres humanos e o Samouco que vos viu crescer como artistas... Qual destas têm sido mais receptivo em relação à vossa música?
Proeza- É o Montijo sem dúvida. E na Moita onde fiz muitas "connects" profissionais...
Ged- Eu costumo dizer que vio onde moro. (Risos).
MS- Quais são as vossas principais influências?
GED- Tupac, Onix. Também gosto muito de "Biggie" (Notorious B:I:G), mas prefiro Pac. Sou um homem da West Coast (Risos). Em termos nacionais, Royalistic, cresci a ouvir Mind da Gap...
Proeza- Eu não tenho influências. Tenho inspirações. Boss AC, Sam The Kid, são artistas que influenciam a minha maneira de escrever e de "Rappar".
MS- Já tocaste no KIntal, nas festas de São Pedro, no Montijo... Achas que foi o ponto alto da tua (Proeza) carreira ou queres mais? Isto não é nada?
Proeza- Isto não é nada! Eu quero mais! (risos).
GED- Isto para ele não é nada.
Proeza- È um grande orgulho, mas...
GED- Já tocámos em "Kintáis", já tocámos em escolas, mas queremos mais...
MS- Onde é que mais desejam divulgar a vossa música?
GED- Tchii... (Risos). O meu sonho era tocar em África...
MS- ...Talvez em Angola a Abrir para o NGA?
GED- Sem dúvida! O rap é de África, portanto seria top tocar para eles...
"O nosso objectivo é ser o grupo na margem Sul que mais bate no Norte."
MS- Achas que mais que uma editora, a Street Music Company é uma família? Uma irmandade? Sentes-te bem a fazer música neste meio? Chamas a este estúdio de casa Proeza?
Proeza- É Tipo um confessionário. Eu digo coisas no microfone que não sou capaz e dizer na vida real. Mas lógico que o calor fraternal de familia está lá.
MS- Como é que surgiu a opurtonidade de virem para esta editora?
GED- Nós não viemos. Ela é que veio ter connosco. Fundámos a editora aqui no Samouco mas trouxemos "rappers" de Chelas e do Montijo. Eu trouxe o Proeza, pensava que ele ia evoluir fixe, e até agora está a responder muito bem a essa evolução.
MS- O "EP Pioneiro"... Sentem que é uma grande amostra do vosso talento ou conseguem fazer melhor?
GED- Não estamos no auge... Sem dúvida que conseguimos fazer melhor, ponto final. Se é para descermos, mais vale andarmos de Skate. (Risos).
MS- Os temas do EP... As canções são genuínas e do coração ou quiserem agradar ás massas? Quem quiseram agradar neste EP?
GED- Sem dúvida que fizemos este EP sem dúvida a querer agradar à cidade. Eu adoro trabalhar. Não gosto de estar parado. Estou neste momento na minha folga. Estou de directa. (Risos).
MS- Proeza, sentes-te dono da tua música? Sentes-te independente nesta editora? Sentes que tens controlo criativo sobre a tua música ou és pressionado pela editora a fazeres ou "música há maneira deles ou borda fora"?
Proeza- Aqui não há censuras. Ninguém prende ninguém...
GED- No fim de contas, cada um faz o que quer e o resto é produção. È o Pós-25 de Abril perfeito. Acho que esta é mesmo a definição perfeita da maneira como fazemos música.
MS- Esse mote têm corrido bem? (Risos).
Proeza- Eu acho que a audição do EP é a resposta perfeita ara essa pergunta... (Risos).
MS- A tua confiança e carisma nesta tua (Proeza) tenra idade... Não te achas muito novo para escreveres ou pensares o que escreves nas tuas letras?
Proeza- ...Acho que não. (Risos). Sempre "parei" com gente grande. Fui forçado a crescer cedo também... Não sei. Acho que as minhas letras são fruto da minha maturidade. A minha maturidade manda-me praguejar. (Risos).
MS- Onde é que se vêm daqui a 4 anos?
GED- Se me perguntassem há 4 anos... Na prisão. Não sei, a vida nestes últimos 4 anos têm me trazido coisas tão boas... Hoje trabalho, sou casado, faço aquilo que gosto... Aquilo que acontecer daqui a 4 anos é um mero bónus.
Proeza- Gostava de ter um vídeo com 1 milhão de visualizações... (Risos). Gostava de ser ouvido.
"O estúdio é uma espécie de confessionário. Eu digo coisas no microfone que não sou capaz de dizer a certas pessoas..."
MS- Qual é o objectivo desta "operação" toda? É ganhar dinheiro? É fazerem músicas para vocês e o vosso pequeno mundo ou é tornarem-se nuns vendidos? No Regula?...
Proeza- Não é de ser vendido. 1º queremos ser ouvidos. 2º... Ganhar dinheiro a ser ouvido. (Risos).
MS- O MontijoSound dá muito valor a artistas indie e lo-fi... Acham que ainda é possível fazer boa música a baixos orçamentos ou acham que eventualmente os custos de produção vão ter de se expandir de forma a sustentarem a vossa música?
Proeza- As pessoas se gostam da nossa música, eventualmente vão demonstrar apoio, e a coisa parte daí...
GED- Ás vezes nem têm de ser orçamental, mas sim sentimental...
Proeza- Sem dúvida...
GED- Se calhar preferimos receber um abraço ou alguém dizer que gostou do nosso som a dinheiro...
"Se violasses um miudo? Eras preso. Se fosse um Padre a violar esse miudo? Absorvam."