Primeira Dama são as gravações de quarto escritas pelo também entusiasta adolescente Manel Lourenço, que viria a tornar-se num dos jovens mais inconformados do movimento, ansiedade essa que torna-se num dos pilares da também hiperativa/juventude ativa editora de Lisboa Xita Records, com fortes amizades com as Labels Maternidade, que extraí outros artistas já estabelecidos como Luís Severo ou Felipe Sambado que disponibiliza-se para gravar e produzir estas faixas no próprio estúdio da Maternidade; Ou fortes influências da editora pioneira Cafetra Records, que apresenta um leque de Singer/Songwriters fundamentais para a influência de não só Primeira Dama como também Lúcia Vives (Éme, Lourenço Crespo, Sallim ou B-Fachada)...
Nessa cabine da Maternidade repleta de reverb e delay Manel gravou faixas melancólicas e de um dramatismo por vezes angustiante: "Não Passa Nada" é uma despedida de amor, envolto numa melodia tocante de colarinho preto. No refrão vocais abatidos, penosos e amargurantes... "Bilingue" são três minutos desconfortáveis, pop irrequieto e maligno, cheio de repetição lírica, vocais imperceptíveis incapazes de compreender as verdadeiras intenções de Manel: se é incomodar, assustar ou alertar...
Antes de "Mareh" o sónico "Faixa Etária", uma guitarra dissonante e uma bateria com a marca de Sambado. Toda essa eletricidade, cadência, ecletismo e trip-hop espacial do refrão delay-drenched consolidam a imagem de marca da Label: comunhão, amizade, drum-machines e sintetizade...
"Mono" traz mais deprimência sonora e outra letra honesta sobre o amor e a saudade para depois terminar com a faixa que dá nome ao disco "Histórias por contar".
Manel Lourenço expõe as suas faixas com maior sinceridade, entrega e carência possível, captando toda a sensibilidade, subtileza e suavidade de uma cantautora feminina compor e apresentar os seus temas.
Histórias por Contar, Xita Records/Maternidade 2016
Vida Salgada são temas desiguais, lições de moral ou simples histórias de vida que retratam auto-estima, sentidos não obrigatórios de vida... Filipe é ele também um artista desigual que escreve sobre tudo o que vê e sente acontecer à sua volta: do cintilante "Vida Salgada" sobre o amor insonso e a necessidade de algo novo! Os acordes tímidos de "Tou Confuso"... Aí Filipe destaca a maneira como as pessoas caem muito facilmente numa pré-definição de acontecimentos e tendências ao invés de marcarem a diferença sem medo de serem elas próprias. Esta escrita honesta e consciente dão caráter e integridade a Sambado, um compositor humilde de canções identificáveis por outros jovens díspares...
Do contagiante neo-psich "Roda a Garrafa" até ao triste e refletivo "Aprender e Ensinar", a sinestesia vocal etérea de "Nó do Peito" para fechar com a chave de ouro "Já Não Vou Sair Daqui", temas de uma simplicidade bruta mas que pegando nesse mistério e subtileza lírica tornam-no num dos artistas mais complexos e difíceis de decifrar da cena, não será este disco a fazê-lo.
Vida Salgada, Spring Toast Records/Maternidade 2016
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