quarta-feira, 23 de março de 2016

Crítica: Yuck- Stranger Things


Impossível não voltar aos livros da história indie (se é que existe sequer 1 livro) e não mencionar os Yuck como uma das mais bem sucedidas bandas revivalistas da nossa geração hipster. A sua brilhante hómonima estreia (2011) para além de conseguir recriar na perfeição essas influências do indie britânico de anos 80 (shoegaze) com a geração americana indie de 90's (Pavement, Dinossaur Jr.), conseguiu ganhar uma inteira nova legião de fãs repescados, adeptos do shoegaze feito outrora adaptado para os tempos de hoje, sendo uma das bandas responsáveis pelo movimento nu-gaze, que chegaria ao máximo pináculo em 2013 quando a sua banda mais icónica (e também pioneira do género) decide lançar um álbum 25 anos depois (My Bloody Valentine).
Passaram 5 anos, uma mudança brusca na formação da banda veio também a mudar radicalmente o som da mesma, Daniel Blumberg hoje é visto como um génio do indie de século XXI ao invés de ser visto como ex-frontman dos Yuck. Isto porque essa saida só veio a provar e elevar Daniel como um visionário da cena alt, homem de tal personalidade, essa insubstituível e quase essencial para dar a cara a um esforço tão arriscado como este de recriar shoegaze, tornando-o fresco e não abrasivo. Tal disco de estreia era repleto de músicas tão ecléticas e de tamanha brutalidade sonora, como o épico "Rubber", quase um hino ao nu-gaze, ou músicas de tamanha sensibilidade- encontra-arrogância-sensual mais tarde convertida para Dream Pop, do mais orelhudo e nostálgico possivel (Georgia). Isto tudo quando Daniel assumia as rédeas da banda. Em 2013 a banda anunciava estar a trabalhar num disco sem Daniel, e parece mesmo que "Glow & Behold" são melodias acabadas de Daniel que as empresta a Max Bloom para fazer as letras e as interpretar também, isto na tentativa do grupo continuar a construir um legado por detrás desse disco icónico de estreia.
Max Bloom, homem de influências muito diferentes daquelas que Daniel tinha, talvez até seja por isso que esses dois egos nunca funcionariam, tenta moldar o grupo à imagem de uma banda de indie rock extremamente previsivel e sem uma profundidade sonora, essa que fluia quase naturalmente. Glow & Behold parece algo inacabado, uma coletânea de demos até (perdoem a hipérbole), mas pelo menos lá encontravamos vestigios de uma banda que outrora se dedicou ao rejuvenescimento do shoegaze, encontramos pedais e tremolo pickings, um som muito abafado que não deixa os outros instumentos para além da guitarra respirarem (rebirth), e só por o grupo esforcar-se tanto para manter-se fiel as suas raizes há que respeitar esse trabalho.
"Stranger Things" é o terceiro LP original dos Yuck e 5 anos depois dessa brilhante estreia é impossivel ouvir Yuck e recuperar um "glimpse" que seja dessa sonoridade distinta e equiparável. Não estou propriamente a dizer que as músicas são más, estou só a dizer que uma banda sem identidade não se pode chamar de banda. Parece que querem instalar-se para sempre no circulo indie sem voltarem a inovar ou dar que falar, e a verdade é que nem conseguem ser melhores que os seus peers (Wavves, Cloud Nothings). "Stranger Things" é algo muito facilmente concebível, o ruido torna-se menos denso a cada faixa, que explora riffs fáceis de 2/3 acordes como em "Cannonball", mas aqui Yuck não se parece uma banda de punk tão pouco algo mais agressivo que isso, mas sim um grupo de indie rock estagnado na seu próprio som que não progride ou acrescenta algo de novo ao género e assim a banda parece perder totalmente a reputação que havia construido com mérito e é pena porque os Yuck poderiam com o tempo (e com mais dois ou três álbuns escritos por Daniel) tornar-se tão grande ou maior que os My Bloody Valentine, que só receberiam os seus devidos créditos muitos (muitos) anos depois dos seus álbuns históricos terem sido gravados, e com esses sonhos também perdem o seu som arranhado e "fuzzento" e que criava uma ilusão "de algo muito maior por fazer", caracteristicas essas que colocaram sequer a banda no radar. Cada música é um grito desesperado de "estamos a fazer o melhor que podemos", "Stranger Things" ou "Only Silence" são faixas muito boas, mas a verdade é que de disco para disco a banda perde cada vez mais credibilidade, e agora a pergunta: Por mais quanto tempo irá a banda viver desse disco clássico feito há 5 anos?


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