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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Saia à noite

Noites de Verão aproximam-se e com elas voltam os concertos escaldantes que percorrem o país, de Norte a Sul. Vem daí descobrir todas as semanas aquilo que te vai fazer sair à noite para ir ver as saias...


1 de Julho, Sexta-Feira

Na Sexta-Feira haverá festa rija no Jardim da Torre de Belém para encerrar as festas da capital. Globaile terá dois palcos e entre os nomes mais sonantes do cartaz temos Batuk, MC Bin Laden, Dengue Dengue Dengue ou as lendas do afro beat Buraka Som Sistema. A entrada é livre.
2 de Julho, Sábado
Sabotage recebe noite Kaleidoscope, como parte do warm up para o Reverence Valada 2016. Desta feita a Psichnight terá DJ sets de Rui Maia, músico dos X-Wife e um dos fundadores do Mirror People... Pedro Chau, baixista de Ghost Hunt e The Parkinsons e o já habitual Dj Residente A Boy Named Sue. Como VJ teremos a fantástica Lena Hurácan (Helena Fagundes), ex-baterista dos The Dirty Coal Train e atual baterista do projeto que tem com Shelley Barradas (também ex-guitarrista dos The Dirty Coal Train) de lo-fi garage chamado Clementine.

Também em Lisboa, no Grupo Desportivo da Pena haverá Galgo com Mighty Sands que apresentam temas do mais recente EP5 e Big Pink respetivamente. Os ritmos africanos de Kimi Djabaté também prometem aquecer a noite, com DJ sets de Tomás Wallenstein (Capitão Fausto) e DJ Quesadilla (Fábio Costa). A entrada é livre.

3 de Julho, Domingo
Feira das almas decorre na Taberna das Almas e terá concertos de Jasmin e DJ set do humorista Rodrigo Nogueira. A entrada é livre e contará com apresentações de jovens artistas designers, estilistas...



Para finalizar, Jorge Palma apresentará os seus clássicos intemporais este Domingo nas festas Populares de São Pedro, no Montijo. A entrada é livre.

Montijo Sound 2016
Design: David Campos

Álbum da semana: Mighty Sands- Big Pink (vol. 1 e 2)

Em 2014 vimos Los Black Jews participarem no cobiçado Vodafone Band Scout, festival que projeta futuras promessas da música alternativa portuguesa. O solarento, western-smooth "DK" revelava todo o potencial da banda que só dois anos mais tarde estaria preparada para um primeiro longa duração e o fazem de forma mais memorável possível: Um conjunto de cassetes intitulado "Big Pink", que vem  mostrar uns re-batizados Mighty Sands como donos do rouge (neste caso rose) ,burlesco pop garageiro mais sofisticado que a cena portuguesa alguma vez sonharia ouvir.
 Embora semelhantes aos seus congéneres americanos Allah Las ou  Love, Mighty não soam tão preocupados com os arranjos de guitarra ou com a (eventual) visceralidade de certas faixas, como pode se ouvir nos últimos 30 segundos do Lucky Luck anthem "Love Son" pura distorção de guitarras e fuzz nos riffs dos refrões, no entanto é nas melodias e em certos momentos de pura harmonia sonora que conseguimos os momentos mais memoráveis de todo o disco.
 Do instrumental alegre e birdy-sinth de Martinee "Cacti" até ao "cowboyento" guiro-sampled* e harmonioso "100 Villains" até ao sexy, pitoresco e exótico "I'm So Thankful", que exibe uma química óbvia entre Luckee e Maree, até ao psich repleto de delay vocal "Ride The Curse" que acaba no super épico de 13 minutos "Mozambique", último registo que vem consolidar a composição consciente, os vocais angelicais de Teresa no refrão e a já mencionada simetria que cada instrumento propõe em cada faixa.
 Big Pink torna-se melhor a cada audição, há subtileza em cada instrumento que vai ficando mais nítida a cada replay, a perceção da letra vai-se tornando mais clara e porque não, o disco vai ficando tão rosa que um dia será apenas chamado de "Disco cor de rosa", e aí saberemos que chegará onde sempre esteve destinado. 

*Pareceu-me ouvir um Guiro, posso estar enganado...

Ouçam Big Pink vol.1 e Big Pink vol.2

domingo, 26 de junho de 2016

ZARCO libertam single "Português Azul"

A banda portuguesa de prog rock ZARCO libertou hoje o primeiro single, via bandcamp, intitulado "Português Azul". Zarco têm vindo a anunciar o lançamento de faixas gravadas há algum tempo na sua página de facebook, deixando os fãs numa espera intensa e algo irónica. Contudo, adiantam já que "mais tempestades virão"...




Ouçam aqui "Português Azul" de ZARCO

Faixa da semana: Surma- Maasai


Surma é o projeto de Débora Umbelino, compositora e multi instrumentista de Leiria, que nos vem a trazer uma das vozes mais cativantes que tive o prazer de ouvir nos últimos tempos, doçura depois mais tarde dissolvida em tons escuros, climas adversos, como pudemos escutar em "LO-FI"...
Olhando para a produção de Emanuel Botelho (Sensible Soccers), "Maasai" é só mais um espectro noturno que revela uma artista introspetiva mas segura em todos os instrumentos que utiliza para expressar-se de forma mais emblemática possível, embora estejamos a falar de música minimalista trancada por uma chave que só Surma possuí: Os sintetizadores misteriosos servem de bússola neste acordar pós-coma que nos deixa atordoados pelas cordas e pelos bpm impostos pelo seu drum machine que seguem cada heartbeat mais expetante, irrequieto e inseguro após entrarmos neste daydream... Os vocais etéreos e impercetíveis impedem-nos de acordar deste sonho, à medida que nos afundamos cada vez mais em Maasai sem um bilhete de retorno... Os compressores gelados hipnotizam e entre cada oscilação fazem-nos querer voltar a repetir toda esta viagem num loop que torna-se viciante e a seu tempo terebrante.
 Surma é uma pedra rara mas não é a única, no entanto a profundidade, intimidade e nervosismo acutilante que incuta no seu som, o dramatismo e teatralidade por trás da sua voz e a simplicidade que funde ambos torna-a numa das jóias mais promissoras da cena desde Sequin.
 O verão mal começa e já desejo acordar no próximo inverno...

Ouçam Maasai de Surma

quarta-feira, 22 de junho de 2016

ANOHNI e o sufocante «HOPELESSNESS»



Horas findadas após o dia mais longo com a noite mais curta, vejo-me debruçada na inevitável pressão académica que teima em prolongar-se. Mea culpa, a quem os pensamentos esquizofrénicos assombram quando me auto disciplino para o abençoado momento de concentração. O meu corpo só cede à obediência e à assertividade quando absorve a banda sonora certa e essa procura poder-se-á revelar sufocante, todo um tempo perdido para acalmar o inconsciente alarmado pelas lembranças e respetivas distorções que mais procuro reter nas portas da memória. Não foi há muito que essa demanda revelou-se em forma de pista, quando dei por mim a procrastinar pelo meu maioritariamente inútil feed de Facebook. Alguém, num dos meus grupos, tentava a sua sorte na venda de bilhetes para o concerto de ANOHNI. Não vou negar o teor tentador da proposta de negócio, porém tive que me debater com os prós e contras e acabar por levitar para mais perto da razão. Se as circunstâncias da minha vida não jogam a favor dessa experiência, deixar-me ludibriar pela sua obra pareceu-me a decisão mais acertada. Tudo isto antecipou toda uma caminhada espiritual, uma faixa de cada vez.
Esta voz entrelaça o seu voodoo imperceptível com um instrumental que a ampara sempre que se ouve o seu propositado fraquejo, qual sustentáculo semelhante a uma cama com lençóis de seda. Com apenas um LP, ANOHNI (voz dos Anthony & The Johnsons, grupo que desconhecia até à data) trouxe as minhas inseguranças à flor da pele por bronzear.

Como começar por explicar ANOHNI? Ora bem… Se o James Blake ligasse mais a política do que às paixões, teríamos ANOHNI. Penso que já se percebeu a ideia e automaticamente devem estar a desenvolver uma generalização redutora de tudo o que poderá ser a sua sonoridade. ANOHNI é uma artista transgénero que não poupa na violência lírica e sonora inerente à atualidade. O piano, que raramente é dispensado de qualquer uma das faixas, abraça a restante instrumentação eletrónica que decompõe as palavras cantadas . O álbum «Hopelessness» é vulnerável e cortante, intimidador sem ser efusivo, realista e violento enquanto transmite uma certa esperança. Sem esquecer que é angelical e quando falamos dos anjos não se olha a sexo.

«Drone Bomb Me» inicia esta profundidade inquieta como um aquecimento para qualquer cena dramática. As massagens estão feitas e a alma mais repousada, canta-se "Blow me from the mountains/And into the sea/Blow me from the side of the mountain/Blow my head off/Explode my crystal guts". A segunda faixa, com uma percussão tribal e uma orquestra de fundo deslumbrante, é definitivamente a cereja no topo do disco. «4 DEGREES» é a antítese completa do que o título elucida e chega a ter proporções flamejantes. Sem dúvida, a minha favorita.
«Watch Me» até podia ser sobre amor fraternal, mas é sobre o Governo Americano e voyeurismo, numa poesia que envolve preces e denúncias das maldades do mundo em que vivemos. Vale a pena ouvir esta com atenção, só para contemplar o desfecho destes pedidos.«I don't love you anymore» e «Obama» respiram insegurança e temor, sendo de uma tamanha violência que me forçou a parar o disco a meio para descomprimir com a comestível One Dance, do Drake (confesso este pecado e atribuo a culpa à publicidade do Spotify). «When Did You Separate Me from the Earth» é uma viagem espacial pelas estrelas e passo a destacar também «Marrow», o desfecho singelo para este álbum que, quer eu volte a ouvir ou não, primou pela frontalidade emocional.
ANOHNI fez por mim aquilo que eu não conseguia fazer: a sensação natural de que tudo está bem, mesmo que não acabe a bem.


terça-feira, 21 de junho de 2016

Crítica: Mamihlapinatapai- Mamihlapinatapai I


Há já algum tempo João Correia ou como lhe chamam por estas bandas "Zé Bolachas" (vocais, guitarra), Paulo Rodrigues (bateria) e mais tarde Aboo Gani (baixo) vinham a desenvolver um projeto chamado Mamihlapinatapai, provavelmente quem estiver a ler isto demorará uns quantos meses a conseguir pronunciar este nome de origem Yaghan, que significa "duas pessoas olham uma para a outra sendo que ambas desejam que a outra pessoa faça o que ambos desejam mas nenhuma delas está disposta a fazê-lo", numa tradução própria. Alguns concertos no Montijo, nomeadamente na Feira Dona Edite ou para lá da ponte no Cá-Fusão deste ano deram algum hype ao trio de Acid Jazz Experimental muito pouco lúcido e com um frontman algo carismático, e agora apresentam-se ao mundo com um primeiro EP homónimo "Mamihlapinatapai I".
 Em termos sonoros não é o grupo mais complexo do mundo: Em "Linguadaluz I" um baixo groovy estabiliza por certo a bateria plate-full de Paulo, aqui e em quase todas as faixas. Aquilo que torna (eventualmente) estas faixas verdadeiramente fascinantes são a tenacidade de João, ora calmo e suave como o baixo que a acompanha, ora prolífero e violento, tudo isto quase de forma improvisada.
 Para além da capacidade de estruturarem melodias jazzy-groove, há uma certa frustração política em "Bolo de Nóz", depois convertida num comedy spoken divertido que só revela a personalidade carismática de João, que liberta toda a tensão e frustração que uma letra dessa natureza poderia carregar: "Digam aos políticos que nós queremos é bolo de noz, para nós, queremos subsídios em bolo de noz (...) queremos que o bolo de noz não tenha IVA a 23%, a 3 ou nenhum"...
 Para terminar com o alegre, Reggae-blasted rocksteady "Rejeitar", que solta mais escrita non-sense sobre uma possível história de amor na rua Tabu?
  Não é emblemático nem nada do género mas são faixas bem gravadas que apresentam temas singulares, seja na composição ou na própria concepção de cada faixa. Acima de tudo Mamihlapinatapai conseguem um cartão de visita que poderá ser importante para futuros concertos e toda esta leveza e falta de seriedade combinadas com uma sincronização perfeita de instrumentos, melodias alegres e coragem para experimentar acordes progressivamente podem, no futuro, colocar a banda num nicho onde poucos poderão alguma vez sonhar alcançar.

Ouçam Mamihlapinatapai I


segunda-feira, 20 de junho de 2016

PEIDO ESPACIAL #12 (último episódio!!!): RAQUEL LAINS!!!!!


E chegámos ao centro da galáxia, o fim da primeira aventura espacial, o terminus da nossa epopeia... 12 sugestões vos trouxemos durante 12 semanas, das Clementine aos Capitão Fausto, dos Panado ao Alex Chinaskee, e agora é a vez da Raquel Lains, a quem muito mas muito devemos, sem ela não estaríamos a fazer peidos espaciais nenhuns, vos garanto.
Dizemos que esta é a nossa demanda galáctica em busca de sugestões, peidos cósmicos e (descuidos, se preferirmos) de pessoas e bandas lindas e especiais. Pois não há ninguém melhor, mais lindo ou especial que Raquel Lains.  É ela quem larga o 12º Peido, o último da primeira temporada do PEIDO ESPACIAL. Traz-nos no seu texto os Mão Morta e recordações dos inícios da sua carreira (Let's Start a Fire), muito mais do que uma simples sugestão, mas toda uma inspiração, o verdadeiro Santo Graal, o elixir da inspiração no que toca a fazer coisas à volta da música. A tripulação do Montijo Sound volta para casa de barriga cheia, com a sensação de tarefa cumprida, a tempo de ver o resto do europeu de França e apoiar a seleção!




 "A Let's Start A Fire sempre foi um sonho que eu tive e que ia idealizando desde que comecei a trabalhar na música. Mas foi quando promovi o meu primeiro disco enquanto freelancer que tudo se tornou realidade, que fez todo o sentido e me confirmou qual o caminho a seguir. Esse disco foi o disco de Mão Morta “Nus” e aconteceu tudo muito naturalmente. Eu estava a tirar um curso de Produção e marketing discográfico na ETIC para o qual tive de fazer um trabalho em que teria de escolher uma banda e analisar a sua imagem. A minha escolha, lógica enquanto fã também, foi os Mão Morta. Queria muito falar com a banda para poder fazer o melhor trabalho possível e, para grande espanto meu, a banda deu-me resposta imediata ao meu email e pedido. O trabalho ficou incrível e eu auto propus-me trabalhar o que a banda quisesse, quando quisesse. Afinal, era fã dos Mão Morta antes do trabalho, ainda mais fã fiquei após o trabalho. E quem não sonhava trabalhar os Mão Morta? Mais espanto tive quando me disseram que tinham um disco novo para o qual precisavam duma promotora e me perguntaram se o queria fazer. CLARO que sim. Tudo começou aí… A Let’s Start A Fire nasceu aí… com o primeiro disco que promovi e com os Mão Morta que decidiram apostar em mim para a promoção do seu disco. E que correu excelentemente bem, aliás, não podia ter corrido melhor. Depois desse disco, trabalhei outros discos da banda e muitos discos da Cobra Discos, editora do Adolfo Luxúria Caníbal, António Rafael e Miguel Pedro. O meu carinho pelos Mão Morta é imensurável e o meu agradecimento eterno. Esta música que vos apresento é desse disco e é talvez a que mais me toca… Foi-me enviada, inclusive, numa compilação do meu namorado na altura que vivia muito longe… Os amores também batem certo pela música que ouves. Ouvi e ouço este disco muitas vezes, diz-me como me tornei no que sou hoje. E ser quem sou por os Mão Morta terem apostado em mim, enche-me o peito e faz de mim uma pessoa feliz."




Agradecimentos:
Raquel Lains

MontijoSound 2016

domingo, 19 de junho de 2016

Álbum da semana: Sun Blossoms (homónimo)

Antes de mais, não é fácil escrever sobre discos desta subtileza e sensibilidade. Também não é comum ver, em tão tenra idade, alguém com o dom de Alexandre Fernandes. Parece datado mas reparem, Kevin já tinha os Impala com 14/15 anos antes de se tornarem no protótipo da nova cultura independente. Com 15 anos Alexandre já compunha, gravava e mexia com pedais e layers de reverb. O background é sem duvida favorável.
 Em Setembro de 2015, com 17/18 anos de idade (já), Sun Blossoms (disco de estreia homónimo) saí pelas mãos da Revolve , label habituada a ter outros nomes psicó-trópicos no catálogo (Pontiak ou Toulouse) e que estreia! Sem soar 100% similar aos seus contemporâneos, Alex oferece-nos faixas lentas e aéreas, melodias carregadas de vocais nublados, tímidos... Afinal ele era um adolescente quando gravou todas estas 10 faixas sozinho, no seu quarto.
 A cada faixa, Alex vai aperfeiçoando as mecânicas básicas de uma canção pop orelhuda e peganhenta, mas sem soar tão convencional. "Flower Eyes" soa a imobiliário, Alex usa e abusa da repetição como forma de hipnose nos seus acordes gentis e por vezes fuzzentos, como em "Happy", que parece mais ser uma contradição: Ele não fala de felicidade ou de como é feliz, ele explica como o poderia ter sido. Ainda na ironia, ouve-se um fuzz que se contradiz com os acordes verdes e minimalistas, tudo isto sem parecer hostil ou volátil mas sente-se a melancolia, a frustração nos vocais. Antes em "Friend" Alex toca de forma resoluta cordas jangly e na ponte riffs Mondanile-ear-buzz, após o interlúdio que dá nome à natureza de todas estas faixas, "Dream" que mais poderia ser "Dreamy". Depois dessas, o disco afoga-se em mais slackness e depressão mas nunca tensão, em "Like I Do" ou "Grow", o sunshine pop de "Seeds" envolto numa nebulosa de ruído inaudível que capta Melted Toys ou melted noise, o feedback-delay-drenched "Tonight" e o instrumental folk de "Flow" como chave de ouro.
A beleza reside na inocência dos vocais etéreos, a ingenuidade das guitarras de três acordes que sem o serem de todo, soam a algo complexo e estudado e na facilidade que Alex teve em explorar certos arranjos inconvencionais. Haverá dois, três, até quatro discos de Sun Blossoms, nada soará tão orgânico e profundo que esta doce estreia carregada de milésimas possibilidades.

Ouçam Sun Blossoms

sábado, 18 de junho de 2016

Faixa da semana: Alek Rein- River of Doom


Alexandre Rendeiro, Alek Rein, é um personagem. Não a sério, é um alter-ego criado pelo mesmo. Sendo ambos a mesma pessoa, Alek por Alexandre pode tornar-se na pessoa que quiser, pode moldar a personalidade que lhe apetecer e pode explorar as sonoridades que quiser. As far as he's concerned Alek Rein nem é um músico, talvez seja um contador de histórias... Pareço confuso certo? Também é o mundo de Alek, ao qual ele convidou-nos para entrar em 2010 com o EP "Gemini". Não nega as semelhanças com Mac DeMarco ou Kurt Vile, dois dos compositores mais insanos da nova geração indie, um deles um romântico incurável o outro um possível crackhead em rehab?
 Alek Rein assume o seu personagem como um freak, outsider da sociedade, que tem uma banda de folk onde expõe as suas mágoas e histórias de como "Polvilhou sal na sua casa, pregou uma ferradura na sua porta de entrada(...) vestiu os seus espelhos de veludo"... Toda esta escrita emblemática e nihilista dão carisma ao seu personagem, tudo isso aliado à capacidade de construir canções pop bonitas e nostálgicas de certo modo, tudo isso adereços que queremos ouvir em "Mirror Lane".

Ouçam aqui River of Doom

sexta-feira, 17 de junho de 2016

French Sisters invadem Sabotage: Alex Chinaskee viram "Glam Rockers" e Panado definem "arruaça"

Entre uma e outra afinação Cheesecake deu conta do recado
Há duas maneiras de encher um bar como o Sabotage: Oferecendo um disco, gomas e balões à entrada ou anunciar os Panado. Ora, o primeiro podia não ser tão eficaz, então junta-se o Luís e o Sambado, dupla promissora, e aí sim temos condições para uma arruaça. Cheguei tarde à festa admito, viajei do Sodré para a Apolónia para ir buscar o meu mate Cris que viajou de Barcelos, capital portuguesa do Rock, para Lisboa com um único propósito: ver o concerto de Alex Chinaskee, seu protégé do mais recente Mojo Rojo booking madness... Sem inferiorizar os putos Môno. Ora, no outro lado do passeio, junto do Music Box tínhamos o Tokyo, onde iria haver dois concertos também muito promissores: Os homens aparentemente adiantados no tempo, Morning Coffee e os também interessantes Flare. Sexta-Feira a Ípsilon lança um artigo onde menciona algumas promessas da música nacional independente, ora não seria preciso andar muitos quilómetros para vermos essa teia de potencialidade ontem em Lisboa. Miguel Afonso (Barreiro Rocks) também esteve entre os presentes...

Arruaça começou muito antes dos concertos
Antes de tudo estávamos no Tokyo a fumar cigarros e fazer bolinhas de sabão, quando deparo-me com Miguel Gomes e Luis Tojo (irmãs) maquilhados e um seminu, bronzeado, Prince of Persia look a like Tojo, o que me leva a pensar que Chinaskee, em palco, podem encarnar os mais diversos personagens, do mais aprumado para o mais chocante e polémico. Uma nota muito interessante a tirar deste quarteto pop que vai tocando "Campo" ao vivo de forma mais aleatória possível e sem um espírito que iguale a profundeza dessas músicas melancólicas e sonolentas. Há energia em palco, uma espécie de comédia divina, alegria amolece a dor.


Sambado, Severo, Primeira Dama ou Chinaskee à venda na entrada
Já dentro do recinto e acompanhado do Quaresma, apanhámos Alex Chinaskee começarem o intenso espetáculo de movimentos bruscos, spooky psych keyboards e afinanços de cordas. Antes, mas tudo parte do espetáculo, Miguel estava no meio da audiência a ver os seus band-mates esperarem pelo showman, que entra para tocar "Sonhos Loucos" seguido de "Loucos Sonhos" e foi por aí fora tocando faixas desse muito aclamado EP de estreia "Campo", que valeu  elogios de Joaquim Quadros, Galgo ou Cristiano Beato (The Glockenwise). Maquilhados, armados e perigosos, encerram com "Já não vivo" derradeiro cartão de visita de EP que segundo Miguel Gomes será re-gravado com melhores condições, podendo ou não retirar alguma beleza espontânea que poderá residir na natureza lo-fi da gravação. Quando questionado, justificou-se: "Não gostámos, vamos voltar a gravar." Ou durante o concerto: "Preciso de afinar a corda; Preciso de ir ao bar buscar cerveja". Haja paciência para certas birras, no entanto, este poderá ter sido o melhor concerto de Alex Chinaskee até à data: Houve fluidez. Sem inventar, tocaram as suas malhas prediletas e sejam ao vivo ou no EP elas soam bem.
 Aplausos estavam guardados, no entanto...

*Ora provocador ora ingénuo, Tojo foi uma das figuras da noite

Sem merdas, só Rock do Bom. Entram em palco e tocam "Revolução" seguido de "D. João", hino do Rock Felino e single que antecipa um dos lançamentos mais esperados do ano na cena alternativa, "Épê", uma das explosões criativas mais bem recebidas dos últimos tempos. Não vale a pena continuar a divagar sobre Panado: O baixo é irrepreensível, a bateria é seca, a guitarra é arranhada. Embora um trio, o formato básico de uma banda punk, Panado são uma mescla de influências Pós-cenas, o que não insere a banda num quadrado mas sim num circulo perfeito.

Panado na 3º pessoa de Diogo Ramos
Diogo Ramos, Alexandre Fernandes (Sun Blossoms) ou Alexandre Rendeiro (Alek Rein) tiveram a oportunidade. Só um destes a aproveitou...
 "Sapata" foi tremendo do inicio ao fim, deixava-nos expectantes e expectados. "Charopes" já é tão vista que precisou de algo novo... Maria Martinez, noiva de Bernardo Moniz (bateria) subiu para tocar flauta transversal e não tremeu.


Se já vi Panado! Cada vez que os vejo há algo que corre melhor: Não pode ser a bateria ou o baixo ou a guitarra. Não são os músicos porque eles são iguais. Será a química? A experiência que carrega os seus ombros? Seja o que for, estas malhas precisam de ser lançadas com urgência para a banda poder despoletar, subir o cume e anos mais tarde descer essa montanha para nos contar a história, que aliás, já vai sendo escrita. Dia 15 de Junho de 2016 no Sabotage, French Sisters Experience Records & Co escrevem um dos seus capítulos mais nobres.


*Fotos cedidas com amor por Inês Peixoto 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Reverence Festival Valada já tem cartaz completo



Já está disponível o cartaz completo da 3ª edição do Reverence Festival Valada, que tem lugar no Parque de Merendas de Valada entre 8 a 10 de setembro deste ano. 
A edição deste ano traz novidades como o Palco Indigente, que irá acolher 10 bandas nacionais e tem a curadoria de Nuno Calado. São estas: The Quartet of Whoa!, Correia, Miss Lava, Phantom Vision, Nicotine's Orchestra. Fast Eddie Nelson, Flak, Twin Transistors, La Chanson Noire e The Dirty Coal Train.

Saíram também os nomes das seis bandas finalistas do concurso nacional de bandas que visa conceder a oportunidade para duas destas tocarem no festival. A prova final irá decorrer hoje, 16 de julho, no Centro Cultural do Cartaxo e o júri é composto pelos seguintes nomes: António Freitas, Nuno Calado (Antena 3), Ana Búzio, João Borislav, Carlos Montês e André Beda. As bandas a concurso são as seguintes:

Distrito de Santarém: 
CUT (Almeirim) - https://www.facebook.com/CUTmojo
Ossos D'Ouvido (Benavente) - https://www.facebook.com/Ossos-DOuvido-568842956562090
The Fallen Reign (Cartaxo) - https://www.facebook.com/TheFallenReign

Bandas Nacionais:
Moloch (Lisboa) https://www.facebook.com/molochpt
The Brooms (Barreiro) - https://www.facebook.com/The-Brooms-723969867639714
We Buffalo (Lisboa) - https://www.facebook.com/webuffalo



Cartaz completo:

Quinta-feira, dia 8Thee Oh Sees, Chain & The Gang, J.C. Satan, Blaak Heat, The Sunflowers, Flavor Crystals, Sun Mammuth, 800 Gondomar, Pointlist DJ Set

Sexta-feira, dia 9: The Brian Jonestown Massacre, The Raveonettes, Fat White Family, A Place To Bury Strangers, Ozric Tentacles, Dead Meadow, Silver Apples, Yawning Man, LSD & The Search For God, The Japanese Girl, The Black Wizards, The Papermoon Sessions, Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs, Zone Six, Correia, Fast Eddie Nelson, Dirty Coal Train, Nicotine’s Orchestra, Twin Transistors 

DJ Set: João Caveira &, Lumi in the sky with diamonds, Maria P., Kaleidoscope Djs, Fuzz Club Djs, Everybody Kurt, Future Echo Djs, Danny London


Sábado, dia 10: The Sisters Of Mercy, Killing Joke, The Damned, Mécanosphère, With The Dead, Nik Turner’s New Space Ritual, Mars Red Sky, Farflung, The Cult Of Dom Keller, Radar Men From The Moon, Earth Drive, Steak, Papir, Oresund Space Collective, Flak, The Quartet Of Whoa!, Miss Lava, Phantom Vision, Le Chanson Noire 

DJ Set: Serotonin & Alpha, Pedro Chau, Kaleidoscope Djs, James Blonde, Nance Falecida, Chromatism Djs 

Os bilhetes podem ser adquiridos nos locais habituais e os passes gerais custam €60 até 30 de junho, €65 até 31 de julho, €70 até dia 31 de agosto e €80 a partir de 1 de setembro.

Salto lançam documentário de 42 minutos


Os Salto divulgaram ontem, no perfil oficial de Facebook, um documentário filmado por Mário Bock e produzido pelos próprios. O registo compila momentos vividos durante os concertos, ensaios e gravações do ano passado e contempla uma perspetiva pessoal durante a fase de inspiração para o segundo álbum, "Passeio das Virtudes". São ainda apresentadas oito músicas gravadas ao vivo no Rivoli, Teatro Municipal do Porto.


"É a primeira vez que escrevo um texto no Facebook sem ser para a "prima zulmira", para a "NET"/"Redes" e que não sirvo piña-coladas nem peço para fazerem Cher mas acho que 42 minutos de documentário justificam isso. As "redes" também servem para isto! Um abraço a todos! Salto é de quem ouvir!", escreveu Guilherme Ribeiro na atualização do estado.

Podes ver "Salto: Um ano em tour" em baixo:


Indie Music Fest com mais quatro nomes confirmados

As novidades mais frescas para o festival do Bosque do Choupal incluem Riding Pânico (a não perder no Milhões de Festa!), Basset Hounds, Granada e Indio Kurtz, que prometem não ficar atrás de bandas já confirmadas como Galgo, Savanna ou Salto.


 


O Indie Music Fest continua a trazer mais nomes promissores e de prestígio dentro do universo alternativo português. Ainda pode haver muita coisa em aberto, fiquem atentos!

Passe: 25 euros
1, 2 e 3 de Setembro

segunda-feira, 13 de junho de 2016

PEIDO ESPACIAL #11: THE GLOCKENWISE!!!!!



Tirámos o feriado de dia de Santo António para nos fazermos à vida e continuarmos a nossa missão espacial em busca dos maravilhosos peidos. A décima primeira missão levou-nos mais longe, onde cada vez surgem mais e melhores bandas e onde cada vez mais se forjam histórias de festas míticas que se falam por todo o cosmos, levou-nos a Barcelos e aos Glockenwise.
Com a primeira temporada do Peido Espacial quase a terminar podem ver o texto do Beato Cristiano da Perugia, que nos traz  a reinterpretação da música "First Heart Mighty Dawn Dart" por Ty Segall, escrita por Marc Bolan do álbum "A Beard of Stars" (1970) dos Tyrannosaurus Rex!




"Diretamente de Londres para todo o mundo, os T-Rex, formados pelo tão aclamado Marc Bolan, compositor também desta " Fist Heart Mighty Dawn Dart", diz-nos que a música primaveril também pode ser divertida, alegre e até mesmo brincalhona, contudo também nos faz sentir aqueles burburinhos “irónico-sinistros” que o Syd Barret deixava por exemplo no "The Madgap Laughs".

O fuzz do Ty Segall desliza coolness, tanto em modo limpo, como em modo sujo, a articulação que este faz com os vocais sempre rasgados de delay, muito echo, um saturado próprio de quem adora brincar às distorções, refrões e melodias próprias de quem ouviu muito Frank Zappa, características também do tão conhecido heavy 60's and 70's, ressaca dos Blue Cheer, Hawkwind ou até mesmo Cream, bem como outras facetas mais glam e dandy.

Quem o conhece, sabe que tanto Mikal Cronin, como Fuzz, ou outros "b-sides" do Ty Segall, espalham o quão enorme é este senhor, no que diz respeito à composição mais coolness, seja ela grunge, seja pop-melancólico, seja ele psicadelismo misturado com um post-punk super dançável e ao mesmo tempo “new-wave”, o que realmente importa, é perceber que estamos perante um artista polivalente ou neste caso multi-facetado, cheio de heterónimos e outros pseudónimos que o acompanham durante a sua realização mais “songwriter” ou “produtiva” de todo este universo criado pela sua personagem super mas super versátil.

Já por algumas vezes, que passou no nosso Portugal, infelizmente e mais uma vez não o consegui apanhar, acredito que tenham gostado todos do Brian Wilson, bem como de Savages, e outros tantos, mas quanto a mim, e uma vez que nos aproximamos dos picos altos do verão, a minha onda será eternamente esta que vêm da tão conhecida Laguna Beach, que o sol da California vos ilumine nesta life on mars !!!!"




Ouçam aqui Ty Rex completo, de Ty Segall, onde este interpreta algumas faixas do EP, assim como outras duas faixas de Electric Warrior (1971).


Agradecimentos:
Beato Cristiano da Perugia
The Glockenwise
Lovers & Lollipops
Mojo Rojo
Aspen
Cosmic Vishnu

MontijoSound 2016

Álbum da semana: The Glockenwise- Heat


The Glockenwise, para mim é uma banda especial e isso é inegável. Lembram-se há 5 anos atrás? Quando a Vodafone FM começou e junto dela viriam os primeiros novos avanços independentes? Eu lembro-me de ouvir "Beijing" (Sequin) ou "Time to Go" e "Bardamu Girls", os primeiros contatos que tive com a nova música punk portuguesa vieram dessas duas...
 Heat é o terceiro avanço da banda de Barcelos The Glockenwise, aqui trazem um twist interessante daquilo que é o Rock & Roll ou Glock & Roll, como lhe quiserem chamar...
 Aqui é tudo gente grande já não estamos a tocar para universitários bêbados, estamos a tocar no Restelo já, há medida que vemos essas ondas tornarem-se em algo inimaginável e impossível de prever em 2011: uma banda livre e solta, solta maturidade e cordas soltas, cordas de guitarra continuam a soltar-se em acordes mínimos mas já não é tão óbvio, talvez pela composição séria e ponderada. Cordas vocais soltam-se com firmeza e algum sentido de grandeza. "Time (Is a Drag)" arrasta-se num ritmo madchester em barcelos, o saxofone faz lembrar Beck em "Lord Only Knows" e os vocais mais soam a "preto" do Blues que "branco" do Punk! Um rock muito sofisticado mas garageiro nos momentos mais marcantes da faixa. Em "Tide" a banda continua a beber a sua fórmula vencedora de Pop Punk mas o disco vai-se tornando mais escuro, consciente, humano e profundo em "Up to You" ou "Try Hard", onde se nota mais melancolia ou inquietação... Antes de tudo isso "Heat" a música que dá nome ao disco vai servindo de protótipo desta nova demanda sonora. Em suma, Os Glockenwise, sem (ainda) se afastarem totalmente da sua icónica sonoridade que os pôs no radar, vão experimentando novas formas de fazer Punk sem o fazerem de forma 100% convencional e isso dá acidez ao som e alguma maturidade à banda, tudo isso adereços que poderão ser mais tarde referenciados num quarto disco de originais. Enquanto tudo isto acontece a banda dá um salto importante na carreira: de artistas para músicos, deixam de ser uma promessa e passam a cumpri-la.

Entrevista aos Salto: "A idade corre com pressa, a idade não está a andar para trás, não vai devagar..."




Em idos de maio, num jardim em S. Bento, houve passeata pelo imaginário dos Salto. Os portuenses não puderam estar todos presentes mas o Guilherme Ribeiro queimou as "mãos pelo futuro", numa agradável tarde abrasadora. Fica aqui a conversa:


MS: Há dois anos sentiram-se obrigados a adicionar novos membros para a banda, onde e como é que isso influenciou a visão que tinhas para o som do grupo?


Guilherme: Isso partiu de uma ideia minha e do Luís, que somos os fundadores dos Salto e a ideia de termos mais duas pessoas vinha muito da necessidade de partilhar a música que fazíamos com mais alguém - nesse processo de fazer música. Não queríamos contratar músicos para ter ouvido, não era essa a cena, queríamos alguém que tivesse um ouvido, connosco nos Salto. Na sala de ensaios a criar, a fazer, a experimentar com o mesmo grau de liberdade que nós sentimos enquanto Salto. Não nos sentimos presos a isto ou aquilo... e vínhamos de um ano em que tínhamos tocado muito o primeiro álbum, 2013, que era um álbum que tinha imensos sintetizadores e imensas camadas, a cena de estar em estúdio a gravar por cima mais isto e mais aquilo... Tínhamos feito uma versão reduzida disso mas que ao mesmo tempo já era uma bastante completa daquilo que se passava no primeiro disco em que o Luís estava a tocar em dois teclados e, de repente, pegava numa guitarra ou pegava no baixo. Trinta por uma linha! Então se não era muito fixe nem para ele estar em palco, veio a necessidade de 
pôr mais pessoas para cada um também explorar melhor a sua parte, para se explorar com mais à vontade... Falámos com o Tito, que já tinha tocado connosco no lançamento do primeiro álbum e com o Filipe, que nunca tinha tocado connosco mas que fez o curso da Escola Superior de Música connosco. Já o conhecíamos bem e fazia sentido partilhar um entusiasmo parecido com a música.


MS: Depois de "passeio dos alegres", porquê continuarem a brincar com a gravidade e não chamarem à banda "viagem espacial sem retorno", com essa fusão e mescla de géneros, sentem as vossas possibilidades infinitas em termos de som e não presos ou obrigados a seguir certa linhagem de sonoridade?


Guilherme: Não nos sentimos minimamente presos, não faz sentido sequer. Não faz sentido para nós! É ótimo haver bandas que se dedicam a fazer rock, rock psicadélico, rock progressivo, música eletrónica, hip hop ou o que for... e que se dedicam a vida toda a fazer isso! Nada contra. Para nós é muito difícil. Não é por algum medo de nos comprometer, é mais pelo nosso fascínio com as coisas novas que vamos ouvindo todos os dias, às vezes vou ouvir coisas novas que eram dos anos 30, se for preciso! Não vamos andar à procura do que vai sair este ano e do que temos que ser parecidos, nada disso. Estamos é à procura da música que nos fascina, entusiasma e deixa completamente overwhelmed e que nos dá pica tocar. Não estamos a pensar em género nem em estilo, estamos a pensar numa cena que para os quatro faça mesmo sentido tocar.



MS: É fácil chegarem a concordância? Tem todos uma espécie de química, nesse sentido?


Guilherme: Nós também fazemos música juntos porque já há uma série de coisas que partilhamos. Desde gostos - embora haja muitas ramificações mais específicas - há uma série de coisas que são transversais a todos e é por isso que estamos juntos. Se um de nós só gostasse de música clássica era muito difícil estar a fazer isto. Só se fosse sem paixão nenhuma e quase por obrigação mecânica. Por isso, essa concordância é um desafio. Claro que há coisas que, de repente um não sabe nem estava à espera de ir por aquele caminho e de repente até fica "Isto faz todo o sentido!". Mas acho que é isso, como temos gostos e maneiras de estar que são um bocado transversais a todos, com as suas diferenças, essa concordância no que queremos fazer acaba por ser fácil. No que queremos que Salto diga, musicalmente.



MS: Falando do single "Lagostas" até porque gostamos muito de dançar ao som deste... De onde vem o nome da faixa e é sobre o quê?

Guilherme: "Lagostas" é um nome de guerra! É uma cena como quando estás na sala de ensaios a fazer uma música, não sabes que nome é que lhe dás porque não tem nome. Mas depois acabou por funcionar bem no ambiente do vídeo e no ambiente que a letra sugeria. A tal Lagosta que vês no vídeo, uma personagem meio fora deste mundo, mas ao mesmo tempo faz parte e se calhar cada um de nós é um bocado daquilo... A letra fala sobre alguém que está em situações que não são muito possíveis nem reais mas que só de se poder imaginar nessas situações, já garante ali uma probabilidades destas poderem vir a acontecer. A cena de imaginar toda a humanidade no fundo da rua, isso não acontece! Primeiro, tu não sabes o que é toda a humanidade, muito menos no fundo da rua... "Não vou jantar" é no fim disto tudo. "Caramba, é tanta coisa que está a acontecer aqui à volta!" que tu não tens tempo para isso, não há vontade, há muito mais a fazer... Mas foi um bocado natural, não muito pensado. Podia ser, mas "não vou jantar" nem tem a ver com o nome "Lagostas" e depois as coisas acabaram por se juntar e fazer algum sentido. Na Antena 3 - a rádio que nos apoia - quando mandámos o single disseram "Fogo, lagostas, vocês estão a viver acima das vossas possibilidades!" e ouviu a música e disse "Fogo, isto é mesmo fora, vocês falam de lagostas e dizem que não há jantar!? É mesmo adequado ao momento que se vive agora!". Mas não é a pensar nisso, é sobre situações que te fascinam tanto que tu ficas aí mesmo sem possibilidade sequer de pensar em jantar. Tem umas imagens caricatas e engraçadas, tipo aquela cena de imaginares a tua idade ao lado de outro. Tu não vês a idade, nem a idade de outra pessoa. Tu vês uma pessoa que por acaso tem uma idade, tem uma história, tem uma vida, tem o que for... "Encontrei a minha idade/ Ao lado da tua/ Com pressa de quem corre/ Com pressa de quem muda de roupa para jantar". A idade corre com pressa, a idade não está a andar para trás, não vai devagar, vai sempre a um ritmo cruzeiro e muitas vezes, quando passam quarenta anos, as pessoas ficam "Eish, já passaram quarenta anos, foi a correr!" Também tem a ver com o facto do tempo passar e perderes oportunidades em que podes fazer coisas importantes e sentes que é tempo perdido, que o tempo passou ainda mais rápido. Ao mesmo tempo, quando o tempo passa rápido, passa bem e não te custa a passar... Estás a aproveitá-lo bem. Não fala só sobre uma coisa.


MS: Eu interpretei mais no sentido de todos passarmos por isso e de estarmos todos no mesmo caminho. "Eu não estou a ver nomes nem números e estou a ver aqui uma pessoa que está a passar pelo mesmo". Como quando encontramos química com alguém, apensas numa conversa?

Guilherme: Sim, mas é isso e tem essa possibilidade de interpretação, obviamente. Não são histórias que nos aconteceram e que são fechadas, têm uma possibilidade de interpretação... Obviamente que queríamos dizer uma série de coisas com isto mas à medida que vamos "entrando" mais na letra e vamos perder mais tempo a "olhar" para ela e a cantá-la, também vão surgindo mais possibilidades. Isso é constante nas letras de Salto, nós não somos contadores de histórias... mas também porque não sabemos ser. Nem sentimos vontade de ser. Mas por um lado não queremos nem contar histórias. É uma maneira muito natural de escrever, por pessoas que não são propriamente escritores e que não se dedicaram - embora agora temos vindo a dedicar mais. Também tens de crescer nesse aspeto e saber usar melhor jogos de palavras. Não somos, de todo, escritores nem poetas .



MS: O quão conceptual pode ser passeio das virtudes? Se existisse um passeio onde o álbum fosse passado, onde é que esse passeio seria?
Guilherme: O álbum resume muito a tour "Mar Inteiro", que fizemos. Foi a primeira fez que fizemos uma coisa do género e foram umas doze ou treze datas muito concentradas. Foi assim muito condensado, mesmo. Nessa altura não tínhamos o álbum, sequer. Tínhamos a "Passeio das Virtudes", a "Mar Inteiro", a "Estrada Gasta" sem andar a tocar, a ideia da "Lagostas" mas sem letra... A "Queimo as Mãos pelo Futuro" mas também não andávamos a tocar... A "Uma de cada vez" sem letra, que nos dava alta pica tocar... e foi um processo de conhecimento como banda de quatro pessoas. Com o Filipe e com o Tito ainda não tínhamos bem essa dinâmica, o Tito diz que essa altura serviu de "pré-época". São muitos passeios, são muitas viagens. É isso tudo resumido num álbum mas ao mesmo tempo não foi tudo escrito e composto durante aquela tour. Mas aquela tour serviu para ganhar tanta dinâmica como banda que foi um tempo importante para o álbum nascer. Não dá para resumir a um "passeio" mas a tour "Mar Inteiro" é o início disso, sem dúvida. 

MS: O que ganha uma banda sediada no Porto em relação a uma banda lisboeta? O que é que é melhor no Porto?
Guilherme: Posso dizer que as francesinhas são melhores no Porto, de certeza (risos)! As tripas... Estou a brincar! Gastronomicamente, há coisas que são melhores! Mas a nível do que é que é melhor ou pior... não sei, só agora é que estou a experimentar a vida de Lisboa, mas é no Porto que ensaiamos. Sei lá, aqui (Lisboa) tem mais dias de sol do que no Porto. Para relatar coisas que ouvi, há uma imagem que as bandas de Lisboa costumam ter das bandas do Porto: que tocam muito bem. Se calhar é porque tem mau tempo e se calhar passam mais tempo na sala de ensaios (risos). Eu não tenho grande opinião sobre o que é que há a mais num sítio do que noutro. És obviamente um bocado do sítio onde nasces e isso torna-te na pessoa que és. Muito possivelmente, se fossemos de Lisboa fazíamos uma coisa diferente. Mas isso é natural para qualquer área de coisas mais artísticas ou criativas. Um arquiteto que estude em Lisboa e outro no Porto terão orientações diferentes, estilos diferentes. Na música isso também acontece e nota-se. Sem ser sotaque, as pessoas notam "soa-me a uma banda do Porto!". Eu não sei muito bem quais são as características, mas há muita gente que reconhece. Os Salto têm muito a ver com o Porto nessa medida em que sempre foram lá que fizeram música, mas ouvimos música de tantos lados do mundo e de tantas épocas diferentes que também acabas um bocado por ser desses sítios todos e dessas épocas todas. Não sei, é diferente.


MS: A vossa sonoridade remete-nos para dentro de um videojogo dos anos 80, principalmente a do album homónimo. Se esse jogo existisse e fosse comercializado, como é que o descrevias?
Guilherme: Um grande jogo, por acaso! Assim um jogo com uns samurais que andam de carro, tipo Super Mario Kart e que não lutam, deitam aquelas bananas para despistar os que estão atrás... Claramente 2D, jogo interminável, não acabam os níveis. Quando, de repente, pensas que acabaste o nivel voltas ao primeiro e as cores são ao contrário... Carregas para a direita, ele vai para a esquerda. E é sempre a evoluir assim, queres subir e tens que saltar para descer! Coisas assim. E ao mesmo tempo, joga-se futebol! Karts com pessoal a jogar futebol vestido de samurai. Ao mesmo tempo, tens os níveis em que podes jogar aquele Bejeweled (risos), que é o jogo mais ridículo. E Candy Crush, fogo! Tem minas, obviamente, tipo Minesweeper. É tipo todos os jogos juntos, a 2D, com níveis infinitos. Acho que é isto.

MS: No vosso ambiente de ensaios, tendo em conta a vossa dinâmica de criação e ideias… como caracterizavas a energia e o papel de cada membro da banda nisso?
Guilherme: Mesmo aí, nós javardamos um bocado, principalmente eu e o Luís que pedimos ao Tito para tocar bateria, pegamos no baixo do Filipe e começamos a tocar... Não há um papel de um ou de outro, o Filipe não é só baixista e o Tito não é só baterista. De repente trocamos de instrumentos e tá tudo a tocar outra coisa e até nasce uma ideia para uma música aa custa disso. Com a "Lagosta", o fim que usámos ao vivo, nasceu exatamente disso. Sabíamos bem como queríamos acabar aquela música ao vivo. De repente, a música desaguou num instrumental mesmo forte, quase com um riff coletivo. As letras acabam por estar mais comigo e com o Luís, mas acho que veio muito também porque foi assim que começou. Escrevemos o primeiro álbum e o segundo também, tirando duas letras que são do Lucas... A nível de feitio e personalidade o Tito é o mais calmo... o Filipe é calmo mas, musicalmente, está a curtir que nem um doido. O Tito é tranquilo, mesmo na postura de tocar bateria... O Filipe é mais comedido mas quando se passa é tipo WOW. Eu e o Luís somos um bocado irrequietos, estamos sempre ali meios elétricos. Mas também vai mudando muito, depende dos dias. Somos um bocado inconstantes, isto é a conclusão.

MS: Dentro da cena tuga, que bandas é que andam a ouvir?
Guilherme: Olha Throes + The Shine, Moullinex, Capitão Fausto. O mundo é tão pequeno que, de repente, já os conheces a todos... A primeira vez que tocámos com os Capitão Fausto foi em 2011, em Lisboa, e eles tocavam quase só covers... Antes de irem, sequer, gravar o "Gazela". Assim bandas tugas, Gala Drop, BISPO, Modernos, Glockenwise. Estas são mais a falar pelos quatro. Há mesmo muita coisa e eu muito provavelmente estou a esquecer muitos.

MS: Se pudessem dar um salto a qualquer parte do mundo, onde e a quem é que gostariam de apresentar as vossas malhas?
Guilherme: Curtíamos de ir ao Canadá estar com os BADBADNOTGOOD, quase de certeza. Ir a Inglaterra estar com o Caribou e Floating Points. Nos E.U.A. íamos dar uma perninha a vários sítios, com os Battles. Na Austrália íamos ver os Pond e cá em Portugal estávamos com o pessoal todo que já estamos. Acho que curtiamos de estar com o SHIGUETO. Mais! Já agora é para perder um ano a viajar! Ah, íamos ter com a St. Vincent.

MS: Falando de planos para o futuro, qual é o concerto que mais aguardam ansiosamente?
Guilherme: Na verdade, são muitos, nós adoramos tocar! Obviamente Super Bock dia 16, vamos obviamente invadir o palco do Kendrick (risos)! Nós não, o nosso é o Antena 3.

Prof Jam: Concerto na Comuna é um dos pontos mais altos na carreira do rapper

Uma cópia física que também servia de bilhete de entrada
Caras alegres e sorridentes, ansiosas e porque não, estridentes. São só rimas escritas num papel é verdade mas acredito que a beleza reside na forma como elas são interpretadas: Temos aquela dicção "Estou a sufocar porque tenho fumo na garganta" ou como nós comuns lhe chamamos de "Rap Carocho", uma mescla de frases mal construídas que giram (quase) sempre á volta da vida no bairro social, drogas mal geridas consumidas com um propósito destrutivo ou recreativo (nomeadamente marijuana) ou mulheres e o sexo como uma banalidade ao invés de um privilégio... Depois temos aqueles que inventam novas dicções e construções frásicas e trocadilhos e gírias, uma nova forma de expelir palavras com a mesma emoção e intenção. Rimas são expelidas com um propósito, um objectivo, existe uma lição a reter de toda esta "chuva de cuspo" que nos vai atolando o cérebro e nos vai deixando capazes de ver as palavras. É verdade, eu disse ver as palavras.

Faixa alvo vai dos 16 aos 25 mas não passa dos 30
Ainda confundi o teatro aberto com o da Comuna onde se passaria tudo aquilo que Prof Jam havia partilhado nas suas redes sociais: concerto de apresentação do disco "Mixtakes", 10 de Junho no Teatro da Comuna em Lisboa, Praça de Espanha. O que me despertou logo a curiosidade foi a maneira como essas faixas melancólicas seriam interpretadas. Melancólicas e sérias em comparação ao primeiro disco, que fundia trap com bass e outras influências de perfis nocturnos. Embora um homem re-habilitado, haverá sempre o desejo de voltar a ouvir Prof circa 2014, aquela voz que encaixava com os beats explosivos, aquela indecência em forma de ingenuidade... Embora tenha esse desejo admito: Mixtakes veio a dar muita legitimidade a Prof Jam, veio apresentar o humano que reside no seu corpo, tal flow anormal só o tornariam numa besta ou um alien! Iria estar muita gente para ver essas mutações a partida...

Vácuo no aquecimento
Mike El Nite e Papillon entre os convidados Vip
Como prometido, Prof Jam trouxe alguns convidados, alguns ex-mates da Astro Records, agora uma bola sem ar... Vácuo aqueceu o público sedento e impaciente, ora contentado ora indignado pela demora. É que o Prof começava à meia-noite, já passavam meia hora e ainda não havia sinais do homem da noite... Enquanto isso, outros homens capazes subiam ao palco...




Estavam mais de 250 pessoas na Comuna
Mal entrou, num gesto de oração, Prof agradeceu a todos os presentes, eram mais de 200. Uma cortina encerra a primeira cena e "Dope" (Hypnotik Skit) seguido de "Festa Privada", primeiro tema desse disco, fazem Prof Jam entrar no palco com uma t-shirt vermelha, cor viva deixa penetrar toda a luz que ele menciona nas suas faixas profundas e preponderantes de certa forma: Prof emana maturidade e toda a sabedoria que um disco desta bela concepção alguma vez requeria. Vai cantando essas faixas acompanhado do seu homem dos back vocals (Vasco Cruz) ou devia dizer "black vocals" (tal obscuridade por vezes) em faixas subtis como "Sinestesia" ou "Limpa-Fundos", o público acompanhava as letras ao pormenor, entre outros "cocksuckers", peço perdão utilizar expressões que Prof utilizou em músicas anteriores, que na pausa das músicas só sabiam gritar "És o maior Prof"... Eu ali há frente só conseguia gritar "Quero água!", tal compaixão de Prof que ofereceu uma garrafa a uma fã que não se sentia muito bem... São drogas e bottles minha gente.              

                
Magboy chamado para cantar "Cépticos" para delírio óbvio
Com Mixtakes despachado e um brilho nos seus olhos estava agora na altura de começar a festa! Foi vestir uma t-shirt preta e cantou hits atrás de hits com a ajuda de alguns amigos como Magboy (RSK) para cantar "Cépticos", Lhast que produziu vários beats de "Mixtakes" ou faixas de outros artistas como Dillaz esteve presente durante quase todo o concerto e mais além, num DJ Set que durou até às 4 da manhã (segundo relatos)... Mike El Nite, também um dos mais aplaudidos assim como Papillon (Grognation) vieram ajudar Prof Jam a concluir a sua mais emblemática aula, com dois sucessos instantâneos, "Mambo nº1" e "Money" respetivamente.
 Aqui, Prof Jam é reconhecido como um dos rappers mais urgentes da cena portuguesa, Mixtakes ficará para a história como um disco belo, uma concepção refinada e uma composição perturbada mas ciente. Dia 10 de Junho de 2016: Prof Jam é uma das figuras do rap português, e como tal há a pressão de um terceiro disco tão bom ou melhor que este "sophomore", mas ao longo dos anos Mixtakes terá a sua influência nos próximos movimentos e esse será o seu derradeiro legado.
 No ar, ficam as eternas palavras que marcam a noite, proferidas com toda a emoção e honestidade do planeta. Prof Jam acaba e diz: "Este concerto brutal foi todo à vossa pala!", essa frase vale os 10 euros do bilhete. Já o disco é para ser guardado ainda com o plástico na capa e deixar ali a apodrecer durante gerações e gerações. Para os idiotas que abriram: Não podiam ter ouvido na net ou assim?

Prof Jam e Mike El Nite no fim