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domingo, 19 de junho de 2016

Álbum da semana: Sun Blossoms (homónimo)

Antes de mais, não é fácil escrever sobre discos desta subtileza e sensibilidade. Também não é comum ver, em tão tenra idade, alguém com o dom de Alexandre Fernandes. Parece datado mas reparem, Kevin já tinha os Impala com 14/15 anos antes de se tornarem no protótipo da nova cultura independente. Com 15 anos Alexandre já compunha, gravava e mexia com pedais e layers de reverb. O background é sem duvida favorável.
 Em Setembro de 2015, com 17/18 anos de idade (já), Sun Blossoms (disco de estreia homónimo) saí pelas mãos da Revolve , label habituada a ter outros nomes psicó-trópicos no catálogo (Pontiak ou Toulouse) e que estreia! Sem soar 100% similar aos seus contemporâneos, Alex oferece-nos faixas lentas e aéreas, melodias carregadas de vocais nublados, tímidos... Afinal ele era um adolescente quando gravou todas estas 10 faixas sozinho, no seu quarto.
 A cada faixa, Alex vai aperfeiçoando as mecânicas básicas de uma canção pop orelhuda e peganhenta, mas sem soar tão convencional. "Flower Eyes" soa a imobiliário, Alex usa e abusa da repetição como forma de hipnose nos seus acordes gentis e por vezes fuzzentos, como em "Happy", que parece mais ser uma contradição: Ele não fala de felicidade ou de como é feliz, ele explica como o poderia ter sido. Ainda na ironia, ouve-se um fuzz que se contradiz com os acordes verdes e minimalistas, tudo isto sem parecer hostil ou volátil mas sente-se a melancolia, a frustração nos vocais. Antes em "Friend" Alex toca de forma resoluta cordas jangly e na ponte riffs Mondanile-ear-buzz, após o interlúdio que dá nome à natureza de todas estas faixas, "Dream" que mais poderia ser "Dreamy". Depois dessas, o disco afoga-se em mais slackness e depressão mas nunca tensão, em "Like I Do" ou "Grow", o sunshine pop de "Seeds" envolto numa nebulosa de ruído inaudível que capta Melted Toys ou melted noise, o feedback-delay-drenched "Tonight" e o instrumental folk de "Flow" como chave de ouro.
A beleza reside na inocência dos vocais etéreos, a ingenuidade das guitarras de três acordes que sem o serem de todo, soam a algo complexo e estudado e na facilidade que Alex teve em explorar certos arranjos inconvencionais. Haverá dois, três, até quatro discos de Sun Blossoms, nada soará tão orgânico e profundo que esta doce estreia carregada de milésimas possibilidades.

Ouçam Sun Blossoms

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