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sábado, 27 de agosto de 2016

A virtude Sónica de Sunflower Bean


Certamente, o título do primeiro álbum dos Sunflower Bean chama-se Human Ceremony e não foi escolhido ao acaso. A humanidade sempre inventou rituais para se ligar ao Divino. Esta necessidade de conexão com a força vital do universo, que muitos filósofos glorificaram e outros ignoraram está estampada em todos os acordes do disco de estreia da banda nova-iorquina.
Fuzzed Out, Innerspeacker nostalga "Human Ceremony",
de Sunflower Bean

Alguém que não eu adoraria ouvir este disco em cogumelos. Não que os Sunflower Bean sejam psicadélicos no sentido em que uma banda como Spacemen 3 e Spiritualized o são, naquele sentiudo de repetição extensiva. Se os Smoke City e os Cloud Nothings fizessem um filho, que posteriormente desenvolvesse uma fixação por My Bloody Valentine (quem não?) ele tocaria nesta banda.
Falei em cinco bandas estabelecidas para falar de uma banda emergente, o truque de quem não domina a prosa e/ou o tema. Mas neste caso, é justificável: Ainda não tinha ouvido um álbum de “rock” (sim, eu sei) deste ano que não me desse vontade de dormir. E quando soube que Pitchfork escreveu bem sobre estes tipos, resisti à ideia de os ouvir. Porque a Pitchfork (e a Noisey também) é uma merda. Mas os Sunflower Bean não são uma banda-Pitchfork. Há momentos neste disco (Easier Said p.e.) menos enérgicos e mellow de uma forma que seria chunga se não fossem seguidos de cargas de porrada sónica.

Sunflower Bean tem as influências todas no sítio. Tem a eletricidade. Tem o fuzz gostoso nas guitarras. Tem uma bateria com aquela simplicidade de que o rock cada vez mais ressaca. Mas acima de tudo, tem uma malha que soa a Deus. Mesmo que não acreditem num Deus intervencionista, é impossível ouvir a "I Was Home" sem nos sentir no centro do que os índios Cheyenne chamam "O Grande Círculo do Céu, da Terra e dos Sonhos". Não estou queimado, não tenho um charro ao canto da boca e não estou a dizer “Deixa a música entrar man...” enquanto fecho os olhos. Simplesmente "I Was Home" entrou para mim na “caixinha” dos temas incontornavelmente perfeitos. Bem ao lado da "After Hours" dos Velvet*, da Sexual Healing do Gaye, da "Canção de Embalar" do Zeca e da "Wonderful World" do Sam Cooke.
Se calhar faço estas comparações porque estou louco. Mas não quero saber.
 O Human Ceremony vai passar a fazer parte das minhas homilias. Recomendo-vos que façam o mesmo. Porque mesmo que a banda sonora do momento final seja Capitão Fausto, ascender aos céus só será possível com fé no Rock n Roll. Os Sunflower Bean são um sinal, e dizem-nos “Não deixem de acreditar! Let's make rock & roll not great again!”

Texto de Hélder Menor

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