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segunda-feira, 9 de maio de 2016
Álbum da semana: Salto - Passeio das Virtudes
Após o álbum homónimo de 2012, "Passeio das virtudes" é o segundo disco editado destes quatro jovens da Invicta. É desde 30 de janeiro deste ano que temos à nossa disponibilidade um álbum mais maduro e uma atitude mais segura e determinada, com um acréscimo de dois membros. Os Salto, em doze faixas, criaram um álbum que evoca o mar de verão e o potencial do sol, que afina a saturação das cores das coisas visíveis e invisíveis. Menos elétricos e mais sonhadores, donos de uma efervescência agradavelmente contida, os rapazes dignificam sem pretensiosismos o pop/rock elétrico português e refrescam a saúde de quem precisa de vitamina C e não tem fácil acesso a esta.
"Queimo as Mãos pelo Futuro" é um começo ameno para um álbum com mais do que um clímax distribuído pelo seu alinhamento. É nesta malha que começa a viagem e Guilherme canta, sem rodeios, as memórias da Tour Mar Inteiro, que decorreu no ano passado: "Corremos de olhos fechados (...) de bolsos furados". Os vocais suaves deslizam pelos efeitos aéreos do sintetizador e "Mar Inteiro", a faixa mais rock'n'roll é um mergulho numa sinestesia em que cada nota musical é uma explosão de cor. Destaca-se, em seguida, "Passeio das Virtudes", cuja sonhadora introdução é continuada por uma atmosfera de videojogo clássico (avé sintetizadores). Neste videojogo é sempre verão e é o Guilherme que narra a história do jogador com questões existencialistas, num passeio virtuoso até ao infinito. "Nunca faço nada de que não me possa orgulhar/ um dia já no caixão os bichos não me hão-de julgar". Pelos vistos, o herói deste universo sai satisfeito consigo mesmo.
"Lagostas" acaba por ser a melhor onda que se apanha neste disco. É um empurrão soberbo para a pista de dança e para animar qualquer altura do dia. E tudo isso deve-se ao funk, aos rasgos de guitarra, às nostalgia dos 60's e do glam rock. Não é notável a ouvido nu, porém, temos também algumas influências dos Kraftwerk e Daft Punk. Como uma máquina, dançaremos a este single que promete ser transcendente a este verão.
"César" começa por dar ares de chill out/lounge music e é gloriosa, um curto instrumental que brilha como um César Augusto dos tempos modernos. O tema perfeito para ser selecionado como despertador, se quiseres acordar de maneira heróica. "O Sonho da Cidade Branca" é um interlúdio que funciona como um olhar desprevenido para o contexto de criação do álbum, até porque alude a um clima de trabalho e ensaios. "Em Paz Com Falhas" tem umas nuances de Mac DeMarco e é mais soturna, mesmo a nível de registo vocal. "Cidade Branca" passa despercebida e é quase um aquecimento para a beleza caracterizante da confissão que é "Uma de Cada Vez": "Acordo sem me deitar (...) Tudo tem sua vez". Talvez a faixa mais intrigante do álbum, que é aperfeiçoada com umas harmonias vocais interessantes.
"Selva" é ofuscante e libertadora, com a esquizofrenia bem presente, e de certo modo libertadora. Segue "Selva Néon", bem ao jeito do DJ Kavinsky, num registo quase retrowave, perfeito instrumental para uma viagem de carro noturna. Este tema é uma injeção de adrenalina e tem o seu brilho cinematográfico, pois alude às noites das grandes metrópoles. "Estrada Gasta" é a despedida deste passeio do qual saímos com os ouvidos vacinados e a vista toldada pela luz do sol. Fica no ar a ideia de inquietude e a certeza de que os passeios de certos caminhos têm de ser feitos dentro da nossa mente.
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