quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Crítica: Morgan Delt- Phase Zero


A Sub Pop tem-nos habituado ao longo dos anos com bandas de uma fragilidade sonora imensa, abençoadas pela nebulosidade do íncrivel mundo da editora americana. Percursores influentes como "Metz", "I Love You Honey Bear" ou o mais recente "Depression Cherry"... Toda essa nebulosidade viaja ocasionalmente até à década de 70 onde os sintetizadores fundem-se de forma mais fluída com as guitarras reverberadas que a cada acorde mudam de tom e viajam para mundos paralelos, onde a repetição, as haunted samples proporcionam medo, ou pânico...
 Phase Zero é mais um esforço revivalista que vem a sublinhar toda a importância que Innerspeacker viria a ter em toda a cultura psicadélica. Gravado na Califórnia em casa, Delt convida o ouvinte a entrar num mundo perturbado e autista repleto de constrangimento sonoro, esquizófrenia e ecos sintetizados numa sala cheia de reverb e delay infinito. Toda essa magia experimental e psíquica fazem lembrar Pink Floyd numa fase ambulatória, esse Garage não era tão audível desde Innerspeacker, no entanto a produção soa muito mais arrojada que essa estreia brilhante na terra de baixo, embora ambas gravadas em casa sobre condições absurdas.

O disco começa com "I Don't Wanna See What's Happening Outside" e aqui espelha-se de forma menos subtil possível tudo aquilo que Delt andou a "comer" ao longo da sua infância, começando pelo título longo, fazendo referência a "Come Down Softly To My Soul" de Spaceman 3, mas não é só no nome... A timidez vocal e o sintetizador Blue Velvet criam um clima introspetivo, a repetição de "I don't wanna" e o início repentino de "System of a 1000 Lies" acusam o flagrante progressivo e o mantra infinito, como se ambas fossem só uma canção.
 "Another Person" é também uma canção épica de ternura melódica, exprimida e espremida na escolha de notas mais cuidada, refinada e encaixada na própria temática angelical da faixa, não deixando outra alternativa ao ouvinte a não ser escutar e desejar nunca mais acabar e quando por fim acaba solta mais haunted samples, deixando o ouvinte num estado de expetativa total. Isto é perfeição pop.
 Essa expetativa é correspondida por 3 minutos e 47 segundos de espasmos melódicos, vidros sintetizados partem-se provocando "Sun Powers", um dos grandes momentos do ano. São nesses momentos mais díspares e experimentais que Delt revela-se um compositor astuto e sem medo de recriar todo esse pop psicadélico reinventado vezes sem conta por mestres do ofício como Beatles ou Pink Floyd, mas com um twist pessoal, moderno e só dele.

Phase Zero é uma estreia invejável espelhando todas as suas influências em 10 faixas hiperativas, esquisitas e ambíguas, que de forma mais subtil possível reúnem todos os discos clássicos de Pop Psicadélico feitos de 1960 até 2010 num só. Essa visão distorcida de Delt só se torna mais nítida a cada audição, até chegar a um estado de beleza descomunal e de grandeza pop.


Ouçam "Phase Zero"

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